As festas de Bolsonaro

 

Para Bolsonaro, estabelecer a obrigatoriedade do passaporte da vacina foi um crime cometido pela Anvisa. Mais grave ainda, foi aprovar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos.

Como assim, evitar que os brasileiros se contaminem com a ômicron e garantir a saúde dos pequenos? Hediondo!

Dá para acreditar?

Na sua live de quinta-feira, o presidente ameaçou denunciar quem foram os técnicos responsáveis por essa vileza, como se cometessem crime, “para que todos tomem conhecimento.”

Só mesmo os otários desses radicais podem aplaudir uma barbaridade dessas.

E a Anvisa, que tem tanto o que fazer nesses tempos de pandemia e de cólera, ainda precisou perder seu precioso tempo com notas, como a reproduzida pelo Globo:

"Em outubro, após sofrer ameaças de morte e de toda a sorte de atos criminosos por agentes antivacina, no escopo da vacinação para crianças, esta Anvisa está no foco e no alvo do ativismo político violento."

Tiro meu chapéu ao diretor-presidente Antonio Barra Torres, um dos signatários, indicado ao cargo por Bolsonaro, que achava que teria ali mais um cego capacho.

Embora tivesse hesitado ao assumir, o contra-almirante Torres não custou a aderir à Ciência. Até porque seu mandato não permite ser chutado pelo presidente, como ele costuma fazer com tantos outros ‘desobedientes’.

Com a grossura que lhe é peculiar, Bolsonaro ‘ripou’, como ele mesmo definiu, todo mundo do Iphan, “esse trem com PH”. Que nada mais seria do que um órgão para embarreirar a vida alheia. “Não dá mais dor de cabeça para a gente”, ufanou-se, sob aplausos de empresários.

A pedra no sapato era a obra do aliado Luciano Hang, embargada ao topar com um sítio arqueológico.

Sorte foi a reação imediata do MPF, que pediu à Justiça Federal cancelamento da tal ‘ripa’, substituída pela mesma turistóloga antes já afastada da presidência do mais importante braço do patrimônio histórico brasileiro. E motivou mais um pedido de impeachment de sua excelência.

Como se o país fosse o quintal de seus amigos e familiares. E como se a vida dos brasileiros e de suas crianças não passassem de meros acessórios. 

Até quando teremos de aturar esse pesadelo?

(Charge Claudio Duarte)