Cristianização de Bolsonaro

 

Ontem falei aqui que Arthur Lira jamais levaria adiante o impeachment de Bolsonaro, com base em aliados nada republicanos devidamente adulados por gordas fatias do orçamento secreto.

Tudo, porém, tem limites.

Mesmo que o presidente da Câmara não contribua para interromper o mandato do presidente, as pesquisas do Ipec – instituto herdeiro do Ibope – e Datafolha trouxeram fortes razões para, ao menos, dar a devida medida a esse apoio.

É o que ouviu o jornalista Gerson Camarotti de líderes do Centrão. A reprovação de 55% e aprovação de 19% - queda abaixo de 20 que indica o enterro político dos mandatários, segundo os cientistas políticos, são determinantes.

Com isso, já se fala em ‘cristianização’ da reeleição de Bolsonaro. Ao contrário do que possa parecer, o termo nada tem a ver com Cristo, e sim com o opositor de Getúlio Vargas em 1950, Cristiano Machado, traído por seus pares do PSD.

Os números do respeitado instituto de pesquisas, que entrevistou presencialmente 2.002 eleitores entre os dias 9 e 13 de dezembro, levaram lideranças do Centrão a já começarem a ensaiar o abandono dessa canoa furada.

Para eles, a rejeição de 55% é proibitiva e pode contaminar deputados, senadores e governadores aliados. Sobretudo no Nordeste, onde Lula tem 63% e 61% das intenções de voto.

O Datafolha, também em pesquisa presencial, ouviu 3.666 pessoas em 191 cidades.

Ambos cravam a vitória de Lula no primeiro turno.

Os parlamentares começam a acreditar que nem mesmo o lançamento do Auxílio Brasil, que tenta roubar de Lula o bem sucedido Bolsa Família, será suficiente para reverter o quadro que se revela sinistro para o presidente.

"Nesse momento, Bolsonaro ficou muito pesado para ser carregado pelas bases. Nesse cenário, é melhor se afastar para não ser contaminado pela rejeição", disse ao jornalista um influente líder do Centrão.

Enquanto Bolsonaro ensaia nova onda de radicalismo, boicotando o passaporte da vacina para falar direto a seus minoritários apoiadores, o resto do país parece acordar para o que ele realmente representa.

E também o Centrão, que na realidade é quem manda no país.

(Charge Claudio Duarte)