Azar do Brasil

 

Os que sonham com a derrocada de Bolsonaro em outubro não se enganem: muito do novo perfil adquirido por seu governo continuará a valer. Ganhe quem ganhar.

Para começar, o mandato de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara vai até 2023. Pior: além de ter se tornado comandante supremo do orçamento da União, Ciro Nogueira trabalha para ampliar a presença do PP na Câmara.

Como bem definiu o jornalista Thiago Bronzatto, no Globo, o objetivo de Nogueira é “manter em suas mãos a alma de qualquer governo”. Ou seja, assim como o Centrão já foi base de Lula, ele ganhou musculatura para se perpetuar no poder.   

E, mesmo com os baixos índices de popularidade do chefe, os líderes do Centrão continuam a se desdobrar para manter as coisas do jeito que estão. Ainda ensaiam forjar algo muito fora da realidade com o lema “Nasce o novo Brasil”.

O ministro da Casa Civil já mostrou como pretende manipular os fatos em seu recente e distorcido artigo sobre o filme “Não olhe para cima”, desmascarado até pelo próprio diretor.

Tanto Ciro quanto Valdemar Costa Neto, mandachuva do PL, que agora Bolsonaro chama de seu, se dedicam à tarefa hercúlea de encontrar ‘resultados positivos' nos ministérios.

Porém, nenhum dos dois, nem os generais ou o filho Flávio, coordenador da campanha, conseguem demover o mandatário de seu negacionismo.

As estatísticas de que 70% da população se vacinaram não são capazes de convencer Bolsonaro, que continua a perder pontos nas pesquisas com as dificuldade criadas à imunização infantil. Ele prefere manter fidelidade a seus 25% para tentar chegar ao segundo turno.

Os líderes do Centrão até esboçaram a narrativa torta de que a posição do presidente não afetou a vacinação – como se esse monumental erro pudesse contribuir para alguma vantagem.

Os números, porém, não sustentam a tese: o governo levou 216 dias para fechar os acordos às primeiras doses contra a pandemia. Seu ministério da Saúde levou outros 20 dias para fornecer o imunizante infantil após a autorização da Anvisa.

Como se sabe, relaxamentos desse tipo se traduzem em mais internações e mortes, como bem demonstrou a CPI da Covid.

Agora Ciro Nogueira pretende entregar sua pescaria de 'bons feitos' a algum marqueteiro, para que este conclua a mágica de convencer a população de que esse governo que não fez nada chegou a fazer alguma coisa.

No fundo, eles devem se sentir meio heróis, por continuar lutando por uma causa que já se mostra perdida. Sabe-se, porém, que nada disso tem a ver com ideologia.

Esse intenso trabalho pode agora corresponder à manutenção da situação como está, o que é sempre mais confortável. Contudo, eles sabem muito bem que quem vier ainda vai ter de engolir esse sapo por tempo indeterminado.

Talvez uma forte união entre os partidos de oposição fosse capaz de brecar esse quadro mais rapidamente. O que se vê, no entanto, são brigas fratricidas e dificuldades de entendimento para todo lado. Azar do Brasil...