Como poderia ter sido...

 

Uma das mais fortes acusações contra Leonel Brizola (1922-2004) foi a de ele ter estimulado o tráfico de drogas, ao proibir a polícia fluminense de subir o morro.

Nessa época eu fazia a cobertura para o Jornal do Brasil do emocionante primeiro mandato de Brizola como governador do estado do Rio, a partir de 1982.

Emocionante porque inaugurava-se ali uma sequência de manifestações de rua na sede do governo, em Laranjeiras, após os 21 anos de repressão da ditadura militar.

Foi unânime o aplauso dos jornalistas à decisão, que na realidade não proibia a polícia de entrar nas favelas. E sim exigia mandato judicial para a polícia entrar nos barracos, como me explicou o então secretário de Justiça, Nilo Batista.

Brizola, eu, Roberto Ferreira,Tarso de Castro e Ulisses Guimarães

A direita, porém, acostumada ao comportamento truculento das forças policiais nas comunidades mais pobres, logo tratou de distorcer a justa decisão. Foi a fake news da época e, para muitos, entrou para a história como um trato espúrio entre governo e tráfico de drogas, o que nunca ocorreu.

Por outro lado, o que poderia ter acontecido se o projeto de Educação de Brizola e Darci Ribeiro (foto) tivesse continuidade? Para o nosso desgosto, não teve.

Moreira Franco, por exemplo, sabotou os Cieps que , apesar de tudo, ainda prestam valorosos serviços aos mais pobres.  Ainda que mantidos os prédios projetados por Niemeyer - "meu palácio", como Darci queria que as crianças os vissem -, foram raros os que incorporaram a ideia de turno integral.

Não precisa ser ficcionista para imaginar o que poderia ter virado o Rio de Janeiro – e o Brasil, por extensão – se o sonho de Brizola tivesse se realizado.

Seu próprio governo, porém, falhou em estimular a classe dos professores, tarefa que poderia ser facilmente resolvida pelas administrações subsequentes. Não foi, contudo.

Como se sabe, uma de nossas maiores tragédias é a falta de investimentos em Educação. Para aferir o problema, basta  comparar Brasil à Coreia do Sul, cujo IDH, hoje em 17º lugar no ranking mundial, já foi mais baixo que o brasileiro na década de 80. Agora estamos na 75ª colocação.

Essa falta de educação se traduz na eleição de Bolsonaro, e dos frankensteins fabricados durante essa nefasta gestão, provavelmente eleitos em outubro.

Viva Brizola! Viva Darci Ribeiro!    

Marta Alencar e eu, entre um bando de homens no almoço com Brizola no Palácio Guanabara