Desastre ambiental em curso

 

Quem achou que alguma coisa mudaria com o afastamento de Ricardo Salles do ministério do Meio Ambiente, se enganou.

Como se sabe, o advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, terminou de fazer o serviço sujo que Salles deixou pela metade. Ele conseguiu liberar os 131mil m³ da madeira suspeita de ser ilegalmente removida de florestas públicas da Amazônia, em benefício da MDP Transportes.

Quem assinou a decisão foi o juiz Ney Bello, cotado para uma vaga ao STF por indicação de Bolsonaro. Mais um Augusto Aras da vida...Em outubro, Bello já havia determinado a devolução da carga apreendida para outras seis empresas.

A madeira foi detida na divisa entre o Pará e o Amazonas pela Operação Handroanthus, em dezembro de 2020. Segundo a Folha, equivaleria a 6.243 caminhões lotados de carga.

Já o “ambientalismo de resultados” do sucessor Joaquim Leite deixou como rastro um novo recorde em 2021: os bilionários fundos de proteção ambiental Amazônia e do Clima continuam bloqueados pelo atual ministro.

Desde então, os avanços ocorreram por mérito de ativistas ambientais e decisões judiciais, como a volta da representação da sociedade civil ao CONAMA e o restabelecimento da proteção a manguezais e restingas.

E a exploração de cavernas, permitida por decreto de Bolsonaro, acaba de ser derrubada pelo ministro Lewandowski. Aguarda-se o endosso final do STF.

Em seguida à Handroanthus, o então ministro Salles foi alvo de uma notícia-crime no STF pelo chefe da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, ‘premiado’ com o afastamento do cargo.

Saraiva acusava o ex-ministro de dificultar a fiscalização ambiental e fazer lobby administrativo com o setor privado. O escândalo gerou a saída de Salles do cargo, em junho de 2021.

Nada, porém, aconteceu a ele. Tanto que planeja concorrer a deputado estadual em São Paulo, onde tem ligações com o agronegócio. É o exemplo vivo de que o crime compensa.

Além da madeira, foram devolvidos à MDP Transportes caminhões, balsas, documentos e outros bens da companhia.

Nada disso, porém, causa espanto. Afinal, nosso presidente  acaba de comemorar que “o problema ambiental foi resolvido”, com a redução de 80% das multas no setor.

E, apesar das queimadas terem destruído desde 2019 mais de 10 mil km² de florestas da Amazônia, Bolsonaro cortou R$ 8,6 milhões de combate a incêndios do orçamento da União.