Morte infantil como troféu

 

Você viu alguma mobilização de ministros em torno das mortes por Covid? Eu também não. Até a semana passada, quando Damares Alves e Queiroga correram a Botucatu  (foto) atrás de um troféu: a parada cardíaca da menina de 10 anos, após tomar a primeira dose da vacina contra a Covid. 

O médico que trocou o jaleco pela política bolsonarista já havia anunciado um elevado risco de miocardite e problemas cardíacos em crianças vacinadas. Quando se sabe que, além de raros, os casos evoluíram sem sequelas.

O mesmo que inventou a consulta pública e a exigência de receita para imunizar a faixa de 5 a 11 anos, meros pretextos para adiar o início da imunização, para agradar ao chefe.

Em São Paulo, enquanto Queiroga dava com os burros n'água em suas piores intenções, Damares comandava a torcida pela morte da menina. Tudo pelo bem de Bolsonaro, para fazer críveis suas teses estapafúrdias. 

Os esforços da ministra envolveram recursos públicos, como o avião da FAB que a levou de Brasília aos Lençóis Paulistas, onde morava a menina, acompanhada do ministro que deveria cuidar da saúde dos brasileiros. Patético. 

O mal súbito da menina foi resultado de doença congênita, a síndrome de Wolff-Parkinson-White. Após o circo montado, o ministério da Saúde teve de desmentir a associação.

E mesmo depois de esclarecido que o problema nada a tinha a ver com o imunizante, Damares mencionou a visita à menina e sua família em seu Twitter, "hospitalizada no mesmo dia em que recebeu a vacina".

Nada que surpreenda sobre quem já insuflou a população a impedir o aborto de uma menina, também de 10 anos, grávida após os sucessivos estupros do tio.  

Na véspera, Bolsonaro - que nunca mexeu uma palha em relação às vítimas da Covid-19 - havia telefonado à família da menina, desejando sua rápida recuperação. Aproveitou para anunciar seu apoio a Damares no Senado. 

Mais sujo, impossível.