O rei da cara de pau

Quem assistiu ao excelente “Não olhe para cima”, tiro no negacionismo protagonizado por Merryl Streep como presidente dos EUA, sabe que as fontes de inspiração foram os mandatários Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Pois bem, o ministro Ciro Nogueira, que responde a cinco processos criminais, tentou virar as teses defendidas pelo filme do lado do avesso em artigo publicado no Globo.

“O dia seguinte de um governo que continuará com a compreensão correta de que não podemos ter um estado inchado”, propõe, referindo-se à suposta vitória do capitão.

Ele esqueceu de citar o aumento prometido por Bolsonaro aos policiais federais – única categoria de servidores federais que em 10 anos teve ganhos salariais reais -, promovendo ondas de revolta em todo o setor que ameaça entrar em greve.

Não seria inchaço, e sim incompetência ou oportunismo.

“Um governo que diminuiu a taxa de juros e praticou a menor de todos os tempos da história recente do país?”. Mais uma vez, ele esqueceu de dizer que a taxa já ultrapassou dois dígitos, assim como a inflação – terceira maior entre 44 países do G20 -, a maior por aqui desde 2015.

E por quê a pandemia teria nocauteado nossa economia com mais força que aos demais? Isso ele também não soube dizer.

“Um governo que mais que duplicou o valor do antigo Bolsa Família, agora Auxílio Brasil, agora sem pedaladas fiscais?”.

Como se sabe, o governo trocou um bem sucedido programa social por outro, incapaz de chegar a quem realmente precisa por ignorar o Cadastro Único, com distribuição pelos Centros de Referência e Assistência (CRAS) das prefeituras.

“Tudo isso sem pedaladas fiscais, sem uso das estatais para cargos políticos”. É mais que sabido que a PEC dos Precatórios foi criada a pretexto de garantir o Auxílio Brasil.

Só que o benefício poderia ter sido assegurado por outros mecanismos. Não apenas estourou o teto de gastos, como desvalorizou ainda mais nossa moeda e disponibilizou dinheiro a rodo para a campanha eleitoral do presidente.

“Alguns do PT podem distorcer essa análise dos fatos e invocar a surrada campanha do medo”. Como assim, cara pálida? Quem taxa os petistas de comunistas e baliza suas campanhas de fake news sob esse mesmo pretexto?

“E Bolsonaro já provou que tem um forte apoio no Congresso. A propósito, o PT teria?”, questiona o parlamentar sem dizer, é claro - agora dono do orçamento da união -, de onde vem esse apoio: as emendas secretas do orçamento.

Algo meio parecido com o Mensalão, só que não vai direto para o bolso dos políticos. 

Cara de pau!

Para tirar qualquer dúvida, o diretor do filme, Adam McKay, afirmou ao Globo: "Bolsonaro, definitivamente, diria às pessoas para não olharem para cima".