Quem acerta, erra

 

Não sei o que é pior. Ser governado por Bolsonaro ou integrar sua equipe e não estar entre os bovinos. No que depender do ministro Marcelo Queiroga a resposta deve ser óbvia.

Primeiro, ele foi crucificado pelas associações médicas e pela população ao retardar a vacinação infantil. Tudo para agradar ao chefe. Bastou, porém, declarar que a cloroquina não é eficaz contra a Covid-19 para cair em desgraça com o presidente.

E, depois de remover do site do ministério da Saúde (MS) a portaria do olavista Hélio Angotti Neto – sim, eles ainda nos assombram com seu sinistro negacioismo -, parece ter sido demais para Bolsonaro.

Angotti Neto defende o tratamento precoce e desqualifica as vacinas. Bastou para Bolsonaro cogitar transferi-lo da secretaria de Ciência e Tecnologia do MS para a Anvisa.

Já que não pode remover o contra-almirante Antonio Barra Torres da presidência da Anvisa, poderia infiltrar a agência com um representante da sua facção terraplanista.

Para ele, constatar que Queiroga possa ter virado a casaca para defender a Ciência é insuportável. Já basta um Barra Torres para infernizar sua vida.

A não ser que seja uma jogada para eleger Queiroga senador...

Nesse governo, pelo visto, quem acerta, erra. E quem erra, acerta. 

Enquanto isso, Ciro Nogueira, do alto de seu poder sobre o orçamento e do governo como um todo, cuida de ofuscar o brilho de Lula, já que o chefe tem outras prioridades.

Como bem disse a jornalista Malu Gaspar, o ministro da Casa Civil dança um baile com Lula para desconstruí-lo. O ex-amigo virou inimigo. Por enquanto.

E pôs na boca do líder do PT a distinção entre Centrão do bem e  Centrão do mal (como se vê no próprio governo). Quando ambos formam uma mesma entidade fisiológica, disposta a pagar qualquer preço para se manter no poder, já que Bolsonaro parece ainda não ter saído do jardim da infância.

Talvez ele acredite que ainda possa brincar de espírito de porco, já que, até agora, as conclusões da CPI da Covid não chegaram a incomodá-lo, com o devido respaldo do PGR Augusto Aras.

Nogueira insiste em dizer que Bolsonaro se reelege. Como se as pesquisas de opinião fossem mero acessório e o presidente tivesse algum argumento para defender sua calamitosa gestão.

Com o devido cuidado de manter as portas abertas para quem quer que se eleja em outubro.

E que é ruim para a equipe não resta dúvidas. Só não sei se pode ser pior para nós, as vítimas diretas dessa nefasta gestão.