Eu sou você amanhã

 

Após as juras de amor a Vladimir Putin, Bolsonaro desembarcou ontem em viagem relâmpago à Hungria. O primeiro-ministro Viktor Orbán é tudo o que o presidente deseja ser amanhã.

Como se sabe, lá a imprensa foi amordaçada e a Justiça aparelhada na 'democracia iliberal', que também controla as universidades. Orbán segue exatamente o modelo do livro “Como morrem as democracias”, de Steven Levitsky.

Em seu primeiro mandato, iniciado em 2010, ele tomou de assalto as instituições democráticas com o suporte do partido Fidesz, de extrema-direita. Seu poder se consolidou nesses 12 anos e hoje ele é também xenófobo e anti LGBTQI+.  

Mulheres com mais de quatro filhos não pagam imposto de renda, em simultâneo apoio ao crescimento populacional e à estagnação feminina.

Foi chamado de “irmão” pelo presidente.

Neste aceno eleitoral à base conservadora, Bolsonaro tenta também tapar o sol com a peneira.

Quem não se lembra do vexame na reunião do G-20, onde a única alternativa do capitão foi conversar com os garçons?

Enquanto Lula foi recebido pelos líderes da França, Alemanha e Espanha, logo após o gelo sofrido por Bolsonaro, nenhum deles esboçou qualquer convite ao presidente do Brasil. 

E muito menos Joe Biden, rechaçado por meses por Bolsonaro após sua posse, perdido com a derrota de Trump.

Motivos para tanto desprezo estão na cara. De vanguardista nas questões ambientais o Brasil passou a vilão, com a destruição de nossas florestas estimulada pelo atual governo.

Seus arroubos autoritários, ataques ao STF e desmoronamento da Cultura e Educação também são vistos com os piores olhos pelos principais líderes ocidentais, que preferem distância de Bolsonaro e torcem por sua derrota nas urnas.

A única alternativa foi apelar a Putin e Orbán, para fingir que não está isolado e fazer média com seu núcleo duro. Aproveitou para prestigiar os milicos – são três generais na comitiva, mais um almirante e comandantes das três forças.

Destaco aqui a explicação do leitor Luiz Roberto Oliveira Pereira, sobre a presença dos militares e de Carluxo na comitiva: liderar a guerra suja cibernética contra o TSE.

E, depois de ignorar as tragédias da Bahia e Minas Gerais, o presidente promete sobrevoar Petrópolis na volta ao Brasil. Será que a viagem o fez se comover com mortos e desabrigados ou ele acordou para a importância da solidariedade para sua reeleição?