Jair, o falso messias

Apesar das reações à viagem de Bolsonaro à Rússia numa hora dessas, houve até críticos que concordaram com ela.

 Um deles foi Celso Amorim, ex-ministro de Lula e Dilma. “Seria um sinal de submissão a uma agenda de Washington que não tem cabimento”, argumentou.

Até o avesso jornalista Guga Chacra apoiou: “Não deve ser classificado como um absurdo, a viagem foi marcada há meses atrás e o cancelamento poderia trazer resultados negativos à nossa política externa”.

Afinal, desde a criação dos BRICS, as relações do Brasil com a Rússia têm mantido um alto padrão.

Agora, o que ninguém imaginava, ou melhor, sua turba de apoiadores nas redes já começa a espalhar, é que o capitão viajou para livrar o mundo de uma nova guerra mundial. 

Tem toda cara de coisa do Carluxo, que aproveitou para passear - e provavelmente fazer contatos estratégicos com a dark web - por Moscou junto à comitiva.

E, se Bolsonaro der a sorte de Putin desistir mesmo de invadir a Ucrânia, a mudança será atribuída a Jair Messias, em sua missão divina para salvar o planeta.

Ontem mesmo Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, começou a inundar o Instagram com as mensagens: “Putin sinaliza recuo na Ucrânia, presidente Bolsonaro evita a 3ª Guerra Mundial”.   

Sonso como é, Salles disse à Folha que se tratava de memes e que “qualquer pessoa com um mínimo de inteligência conseguiria perceber isso". Acrescentou que polêmicas sobre o assunto são uma “imbecilidade” e lamentou que não se possa mais brincar nas redes.

Em outro, de Bruno Engler, deputado que coordena o Movimento Direita Minas, legendas em português de um vídeo com Putin atribuem à lata de leite condensado com que o capitão o presenteou sua desistência em invadir a Ucrânia.

É difícil crer que Bolsonaro tenha dobrado sua aposta com fake news como essas em mente. Até porque, tem sido impossível prever o desfecho desse drama mundial.

Para o presidente e seus apoiadores, virou mais uma tacada para enganar os trouxas.