Poder de fogo do Telegram

 

Mesmo que o TSE decida banir o Telegram é bom que saiba: nem na Rússia funcionou. O serviço foi bloqueado em 2018 no país, quando o milionário Pavel Durov, o Mark Zuckerberg russo, foi advertido pelo governo de seu país.

“Conclamo todos que defendem a Internet livre a lançar uma gaivota pela janela, um avião de papel, exatamente às 19h. Esta semana ficará registrada na história”, reagiu Durov na rede social VKontakte, fundada por ele e seu irmão, Nikolai.

A gaivota é símbolo do Telegram, criado em 2013. E lançá-las da janela é referência ao popular vilão de histórias em quadrinhos, assassino de políticos corruptos e empresários mafiosos, o justiceiro Doutor Praga. Encarnado por Durov. 

À luz do dia, ele é o fundador de uma rede social. À noite, o sinistro justiceiro, com a mesma máscara de bico dos médicos medievais. A convocação feita acima pelo CEO motivou fortes reações nas ruas de Moscou. 

Até que o banimento foi suspenso, em 18 de junho de 2020. A justificativa era conter extremistas, leia-se, movimentos pró-democracia. Na realidade, contudo, o bloqueio de milhões não conseguiu impedir a continuidade da troca de informações.

Ou seja, se o TSE for pelo mesmo caminho, também pode enfrentar dificuldades, como observa o Canal Meio.

Durov é filho de um professor universitário de Latim e Roma Antiga, que foi trabalhar na Universidade de Turim quando o filho tinha apenas 4 anos. Por muito tempo o menino viveu com a avó, quando aprendeu a “contar comigo mesmo”.

Seu irmão mais velho, Nikolai, era campeão de olimpíadas internacionais de Matemática. Foi com ele que lançou o VKontakte, em 2006, cópia do Facebook. A plataforma explodiu na Rússia, quando Putin ainda posava de democrata. 

Com ela o jovem ficou rico, aos 22 anos. Hoje representa um poder paralelo ao de Vladimir Putin.

O Telegram criou um ambiente livre, aberto do Estado Islâmico às armas e movimentos antivacina, passando da pornografia da vingança às imagens de pedofilia. E, claro, à extrema-direita, principal meio de comunicação do clã.

Não por acaso, Bolsonaro acaba de viajar à Rússia com militares e o filho Carlos, expert em campanha nas redes sociais. Foi o início da suja guerra digital que se avizinha.