Temperatura das fake news


Em matéria de disparos em massa de fake news, o cenário eleitoral de outubro está menos ameaçador do que em 2018. Essa é uma das conclusões da conversa de David Nemer e Pedro Dória (foto) no Canal Meio.

Professor da Universidade de Virgínia e pesquisador de Harvard, ambas nos EUA, Nemer é especialista em desinformação digital. E sua melhor notícia é a de que se o TSE bloquear o Telegram, as fake news bolsonaristas também serão bloqueadas por aqui.

Temia-se que acontecesse o mesmo que ocorreu na Rússia, terra natal de Pavel Durov, o CEO do Telegram. Lá, a plataforma foi bloqueada de 2018 a 2020 e a troca de mensagens se manteve frenética.

Aqui, um bloqueio não atingiria 100% dos usuários, "porque muitos já têm alternativas para escapar, mas a infraestrutura pode ser eliminada em seu cerne”, acredita o professor.

A lógica é a do siga o dinheiro. Hoje o Telegram é usado por 53% dos donos de celulares, e o bloqueio atingiria a maioria deles, que formam a base da plataforma. Porém, se os anúncios não atingirem essa maioria, o Telegram se desidrata.

Na campanha de 2018 a base da disseminação das notícias falsas foram os grupos de WhatsApp, que não tem um algoritmo para direcionar as informações. 

Nemer compara o esquema ao de uma pirâmide, onde o topo é o da produção monetizada de desinformação, no meio fica a distribuição e na base, a grande maioria de usuários.

Bolsonaro ainda era um ilustre desconhecido em 2018 e essa base queria saber quem era ele.

Só que a CPI das Fake News trouxe avanços. Muitos foram depor e a exposição tornou-se perigosa. “O medo da retaliação tirou dinheiro do WhatsApp”, resume.

A jornalista Patrícia Campos Mello também identificou na Folha os tiros em massa que custaram milhões. "Esses grupos, contudo, não queriam largar o osso e começaram a buscar outras formas de ganhar dinheiro”, lembra Nemer.

Começou então o boom dos sites de notícias de desinformação, que circulavam sem parar e monetizavam em cima dos anúncios. Hoje, a maior parte das fake news circula nos vídeos do Youtube em links no WhatsApp.

Embora esses grupos continuem a trabalhar freneticamente para manter a realidade paralela criada pelos bolsonaristas, essa tropa perdeu tração se comparado a 2018. Talvez tenha sido em busca de compensações que Carluxo viajou à Rússia.

Ainda podem, entretanto, fazer muitos estragos.

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