Salve-se quem puder

 

Como é possível um subpersonagem como Daniel Silveira ser alçado à fama por sua truculência? E como pode um país parar para discutir o futuro jurídico desse tipo de boçal?

Após consumir nosso tempo e impostos com o julgamento do marombado no STF, cuja condenação foi usada por Bolsonaro – não que ele se importe com o aliado – para declarar guerra à Corte, não se fala em outra coisa. Por sinal, já era uma jogada ensaiada para defender seus filhos de possíveis julgamentos. 

E, de quebra, mais holofotes para a campanha eleitoral.

Ministros já sustentam que o decreto de Bolsonaro que liberou o aliado da decisão do STF é inconstitucional. Vários especialistas consideram que a decisão final caberá ao Supremo. As controvérsias permanecem, porém. 

Enquanto muitos já debochavam do brucutu com a placa em seu nome – semelhante à de Marielle que ele destruiu com Wilson Witzel –, dessa vez rasgada por Marielle (foto), o presidente lhe concede a “graça”.

Os aliados vieram ao delírio.

Só que o ato presidencial tem seus limites. 

Para começar, o decreto editado quinta-feira por Bolsonaro pode, no máximo, livrar Silveira da prisão e da multa. O parlamentar continuaria impedido de  concorrer a novo cargo eletivo em outubro.

Como se sabe, Silveira foi condenado por dez votos a um no STF. Até o ministro André Mendonça, duramente criticado pelo presidente e por seus pares evangélicos – agora adeptos da violência – por não ter pedido vista do processo, argumentou que era preciso “separar o joio do trigo”.

Arthur Lira foi ao STF para o Congresso - dominado pelo bolsonarismo - ter a palavra final sobre a condenação, em revanche ao que considera uma invasão do Judiciário. Enquanto o Executivo se mete no caso antes mesmo que este transite em julgado. Um nó.

A oposição avalia até um novo pedido de impeachment do presidente por Crime de Responsabilidade. Sabemos, contudo, que será mais um a engrossar mais de 100, que não chegará a lugar nenhum porque Arthur Lira não deixa.

O senador Randolfe Rodrigues, por sua vez, entrou com decreto para confrontar o do presidente.

“É inaceitável essa escalada autoritária do Bolsonaro tentando fazer um rompimento institucional”, argumentou ele.

Empolgado com a ousadia, Bolsonaro já estaria até estudando anistiar Roberto Jefferson, Allan dos Santos, Zé Trovão e Oswaldo Eustáquio. Seria a vitória da bandidagem, engrossada pelo número crescente de milicianos armados para antecipar o nosso Capitólio. Salve-se quem puder!