A relatividade do golpe

Sabemos que, ao contrário da Argentina e do Chile, não passamos pela faxina pós ditaduras militares. Isso por causa do perdão concedido pela Lei da Anistia a torturadores e assassinos dos porões do regime instaurado em 1964.

Sabemos também o quão foi intragável aos militares encararem o livro “Brasil nunca mais”, de 1985, assinado por Dom Paulo Evaristo Arns –, ele mesmo, inicialmente um apoiador do golpe de 64.

Sabemos ainda que eles não engoliram a Comissão da Verdade, nomeada pela ex-presidente Dilma Roussef. A iniciativa completou 10 anos ontem.

Instituído em 16 de maio de 2012, o colegiado trabalhou até dezembro de 2014. No relatório final, foram detalhadas prisões, tortura – como a sofrida pela própria Dilma - e assassinatos. Ao todo, 434 mortes e desaparecimentos.

Ficou claro que a repressão e eliminação de opositores era uma política de Estado, compactuada pelo presidente verde-oliva da vez e pelos ministérios militares em atos violentos.

A reação ao livro veio com ORVIL, livro ao contrário, onde os milicos enumeravam os crimes cometidos pela luta armada contra a ditadura. E também à Comissão da Verdade, que funcionou como espécie de aval que legitimaria a volta dos militares ao poder. Como se os esqueletos sequer existissem.

Cientistas políticos atribuem esses dois momentos à gênese do que acompanhamos agora, desde a posse do presidente e perto de mais uma virada eleitoral.

Custamos um pouco a descobrir a interferência junto ao STF do ex-comandante do Exército, general Villas Boas, para que o então favorito Lula não recebesse o habeas corpus em 2018.

Há quem diga que foi o presidente quem teria ido ao encontro dos militares em busca de suporte a suas pretensões de poder. Há quem diga, também, que foi o contrário. Os fardados enxergaram naquele capitão insubordinado alguém com potencial para se eleger mandatário do país.

E que o ‘Partido Militar’ veio para ficar. Agrade ou não.

O atual cenário demonstra o quanto nossas instituições falharam ao perdoar os monstros que torturaram e mataram e ressurgem das cinzas, seja em pessoa ou em novas gerações.

O saldo dessa dança das cadeiras são mais de 6 mil milicos empregados em cargos civis, generais palacianos e golpistas com salários muito acima do teto e a permanente ameaça de golpe pelo presidente com apoio militar. 

Há quem defenda, porém, que esse risco não existe. Simplesmente porque o golpe já estaria em vigor. A saber...


Comentários


  1. Kurian Melayathu Joseph
    Este, não é aquele Bolsonaro que os lambe-botas dos gananciosos EUA colocaram no Planalto "na forma da lei" em 2018 nas eleições FRAUDADAS no estilo FRAUDE-JATO????

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  2. Regina Costa
    Estamos passando pelo momento sombrio da história!

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  3. Lidia Maria Resende Verdini
    Ainda há quem defenda este sujeito

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    1. Pior que os 30% continuam firmes, sempre adulados pelas sandices do mandatário

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  4. Por essas e outras o título do meu livro, uma compilação dos posts mais irados do blog, vai de chamar "Diário da Indignação"

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  5. Estou com muito medo do futuro próximo do Brasil.

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  6. Carlos Noccioli
    Jovens misses, seus estados, representam, nessa festa de alegria e esplendor, seus costumes, seus encantos, seu valor...

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  7. Luzia Moura
    " .....NAO PASSAMOS POR FAXINA PÓS DITADURA" ....EIS O RESULTADO DA LENIENCIA.....

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