Tiro de canhão na reeleição

 

Dessa vez o bicho pegou para o mandatário. As irregularidades na compra da Covaxin, no auge da pandemia; as denúncias de conluio do ministro Ricardo Salles com madeireiros, nada disso foi adiante. As maracutaias do orçamento secreto são engolidas até pela Oposição.

Porém, como se descolar do ex-ministro Milton Ribeiro, preso ontem pela PF? Quem abriu as portas ao lobby dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura (na foto com o presidente e Ribeiro) - ambos também detidos - na Educação?

O presidente, conforme sustentou Ribeiro em gravação.

Foi ali que nasceu a propina em ouro.

Agora, Bozo tenta torcer o episódio a seu favor, ao dizer que a PF – ao contrário do que acusa a 'mídia golpista' – atua com independência. Essa, por sinal, deve ter sido uma desagradável surpresa para o mandatário.

E voltou a mentir: “Nós afastamos ele”, quando se sabe que o ministro pediu demissão na tentativa de preservar o chefe. A essas alturas o presidente deve estar com o rosto cheio de queimaduras, porque botou a cara no fogo pelo ex-auxiliar.

Resta saber se Ribeiro retribuirá a gentileza.  

Até ontem à noite o Senado já tinha 26 das 27 assinaturas necessárias à abertura da CPI do MEC.

Já os que ainda enchem a boca para falar do mensalão parecem ignorar o que passamos a viver com as emendas de relator, o tal orçamento secreto. Corrupção? Onde?

Como a Câmara, formada pelos representantes eleitos pelo povo, pode manipular bilhões de reais sem que ninguém saiba quem os direcionou ou quem os recebeu?

Os recursos não vão direto ao bolso do parlamentar, porém, garantem a reeleição com dinheiro a rodo. 

Só entre 2020 e 2021 saíram dos cofres públicos R$ 36 bilhões rumo a esses redutos eleitorais. Só quem sabe quem mandou é quem recebeu. Em troca, os beneficiados reelegem o generoso deputado/senador que providenciou a benesse.

E, para ter direito a tomar conta dessa bufunfa, nas mãos do Centrão, o parlamentar assume o compromisso de não incomodar o presidente com o impeachment. Toma lá, da cá.

Vamos ver qual será a mágica da vez para enganar os trouxas, e mostrar que o mandatário – como é de seu feitio -  nada tem a ver com Ribeiro e os pastores detidos. 

A arma do ex-ministro já disparou uma vez ao acaso, em pleno aeroporto. E agora, qual será o alvo da vez?