Aliado ou algoz?

 

Milagres acontecem. Pelo menos no Brasil. Augusto Aras, o PGR que vestiu a camisa e fez vista grossa aos crimes cometidos pelo aliado, Bolsonaro, estaria virando a casaca.

Antes tarde do que nunca...embora eu, pessoalmente, ainda custe muito a crer...

Talvez a concordância de Aras com o inédito pedido de investigar o capiroto, assinado pelo sub-procurador, Carlos Frederico Santos - que comanda o núcleo recém criado pelo chefe, o Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos -, não passe de aval ao pedido dos 79 defensores para Bolsonaro se tornar alvo de um inquérito.

O núcleo, por sinal, só foi criado após a AGU pedir a prisão dos golpistas envolvidos nos ataques. 

Além disso, Aras solicitou a abertura de vários inquéritos sobre golpistas participantes do vandalismo de 8 de janeiro. 

O fato do procurador geral ter sido indicado por Bolsonaro fora da lista tríplice – o que não é proibido e Lula já ameaça fazer o mesmo – só contribui para endossar a tese.

Nítida em pedidos de arquivamento de investigações sobre a pandemia, como a de prevaricação na negociação da compra da vacina Covaxin. Assim como na divulgação de documentos sigilosos em uma live para atacar as urnas eletrônicas, cuja reação de Aras foi contrária à do STF.

Até o STF, por sinal, parecia crer no corpo mole de Aras em relação a Bolsonaro. Tanto que chegou a preterir a PGR em inquéritos e decidido sem a intermediação do MP.

Segundo O Globo, analistas jurídicos já veriam uma mudança de comportamento de Aras desde a posse de Lula. Citam como exemplo a participação do PGR na reunião convocada por Lula para discutir o vandalismo do 8 de janeiro, junto a governadores e chefes dos outros poderes.

Em seu discurso, o PGR defendeu sua atuação para coibir atos antidemocráticos. Como se prestasse contas. Na última sexta-feira, contudo, Rodrigo Pacheco foi a Aras pedir que ele abrisse inquérito sobre os golpistas detidos.

O PGR desmanchou-se em salamaleques democráticos, porém, só a cobrança do presidente do Senado já demonstra  falta de confiança na ação de quem deveria tomá-la.

Na última segunda-feira foram abertos os 39 inquéritos solicitados, com a assinatura do sub-procurador. No mesmo dia, Arthur Lira entregou ao PGR documento defendendo a punição dos parlamentares envolvidos nos atos.

Será que Aras acredita no que diz ou apenas se apressa para defender seu pescoço na nova gestão?

O tempo dirá.