Ninguém quer perder a boquinha

 

Quando Bolsonaro planejou o atentado por melhores salários no Exército, foi definido pelo ex-presidente, general Ernesto Geisel, como um “mau militar”.

O episódio, porém, o alçou à fama. Entre os que pensavam igual, viúvos da ditadura, que viram no capitão insubordinado o caminho para a volta ao poder. Por vias legais.

Nada disso é novidade.  

O que agora salta aos olhos é que os vândalos do 8 de janeiro estão sendo localizados, investigados, tornados réus e, só então, presos. Em endereços conhecidos. Têm direito a defesa. E não haverá interrogatórios por Brilhante Ustra.

Ou seja, algo totalmente diferente do tratamento destinado a quem pensava de outra forma durante a ditadura militar.

É o caso dos três terroristas acusados de planejar e tentar explodir uma bomba num caminhão de querosene em Brasília, na véspera de Natal, já tornados réus, após o Tribunal de Justiça aceitar a denúncia do MP.

Como lembrou o colunista Miguel de Almeida, felizes os familiares de todos os detidos pelo ato terrorista, que sabem onde estão os golpistas, que serão presos e condenados.

E não sequestrados para locais desconhecidos, torturados e assassinados nos porões.

Na época, a única informação disponível era: "desaparecidos".

Agora, queixam-se das quentinhas que alimentam os presidiários, até então execrados por eles.

Como ontem publiquei aqui, fica cada vez mais clara a responsabilidade dos fardados por essas ameaças que temos enfrentado. O atentado citado foi gestado no acampamento do QG de Brasília, de onde saíram parte dos terroristas que destruíram nossos símbolos do poder.

Quando as forças de segurança tentaram entrar para prender ativistas, já sob a liderança do ministro Flavio Dino e do interventor, Ricardo Capelli, foram barrados pelo comandante do Exército, general Júlio César de Arruda.

“Você não vai prender gente aqui”, avisou ele a Dino.

Resultado: fuga de centenas de golpistas. 

Imaginem o que não teria feito o Exército (ainda obediente a Bolsonaro) se ali estivessem reunidos professores protestando por melhores salários ou indígenas reclamando de invasões?

O próprio ex-comandante da PM do DF, Fábio Augusto, disse que tentou mobilizar homens contra o acampamento no QG por três vezes e também foi impedido pelo Exército.

Naquele grupo, de uma maioria de militares reformados, estava Maria Aparecida Villas Boas (foto), mulher do general que tuitou para impedir o habeas corpus de Lula antes de sua prisão. Era tratada como celebridade por seus pares.

Ela conhece melhor do que ninguém todas as vantagens obtidas pelos militares na gestão Bolsonaro. Ninguém ali está a fim de perder a boquinha. E as luvas de pelica ainda parecem prevalecer...