Vade retro

 

Sabemos que um dos principais instrumentos para a extrema-direita afiar suas garras foi a habilidade no manejo das redes sociais. Com o empurrãozinho de Steve Bannon e da Cambridge Analytica.

Quem deitou e rolou no método foi Bolsonaro, como analisa o pesquisador e realizador audiovisual, Miguel Antunes Ramos, na Piauí. ”Como um feitiço, ou uma armadilha, enfrentamos a produção deliberada de um estado de afasia coletiva, que imobilizava um país que afundava a olhos vistos”, descreve.

Como explicar que, apesar de metade do Brasil não apoiar e nem ter votado em Bolsonaro, a sensação desde sua eleição em 2018 era de domínio total dos espaços de comunicação?

Ramos cita o slogan usado na campanha em 2018: “É melhor Jair se acostumando”, que coloca a vitória como inevitável. “Eles instauram na linguagem a realidade que queriam produzir. Depois, restaria ao real apenas copiar a imagem.”

 E foi a partir de janeiro de 2018 que as redes sociais do então candidato passaram a ser tomadas por vídeos semelhantes, com Bolsonaro recebido em aeroportos por uma pequena multidão que o carregava nos ombros e gritava: “Mito”!

Em março de 2018, em Curitiba, ele é recepcionado por uma multidão. Na realidade nem é tanta gente assim, ampliada pela concentração em espaço reduzido. A profusão de vídeos, porém, é a novidade política.

Foi o primeiro candidato influencer, com uma imagem nova, que cria a sensação de proximidade com o público. Em vídeo de 28 de julho de 2018, por exemplo, conversa com a câmera, enquanto é atendido por um cabeleireiro. 

O deputado federal, há quase trinta anos, parece um cidadão comum: homem simples, sincero, que corta o cabelo no barbeiro do bairro.

Na facada, em 2018, a lenda se aprofunda. Sabe-se que ele disse no hospital, "já ganhamos". Em vídeo de 20 minutos, sem cortes, frágil, uma sonda sai pelo nariz. O machão viril constrói e associa sua imagem a uma improvável fragilidade. De vítima.

Inclui a fragilidade entre suas potências.

E assim cria um modelo de fanatismo, cego e desinformado. Permanentemente acionado pelo Gabinete do Ódio. Capaz de sugerir que se manter sobre o jet ski é mais essencial que se solidarizar com vítimas de temporais (como fez Lula). 

Vade retro.