A vítima da vítima

 

Você tem pena de Anderson Torres? Eu mesma não tenho nenhuma. Ontem sua defesa conseguiu adiar seu depoimento à PF sobre a operação montada para impedir o acesso dos eleitores de Lula às urnas eletrônicas.

Como sentir pena do homem responsável pela segurança de Brasília, que viajou para Orlando – pátria da extrema direita - antes de iniciadas suas férias, informado da violência prevista para ocorrer justo na sua ausência?

Que guardava em sua casa a minuta do golpe, chamada por ele de ‘lixo’, recebida de sua secretária, que negou tal informação? Cuja autoria ele diz ignorar...

Que, segundo Marília Alencar, ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça, atendeu ao pedido do chefe – o então ministro da Justiça, Anderson Torres – de mapear os locais onde Lula tinha sido mais votado no primeiro turno?

Para dar base aos bloqueios nas estradas no segundo turno.

Esta foi a razão do ministro Alexandre de Morais ter mantido a prisão de Torres, apesar do parecer contrário da PGR.

A defesa do ex-ministro espalhou aos sete ventos que seu cliente já perdeu mais de 10 kg, está deprimido e pensa em suicídio. Por que será que ele não teve este mesmo pensamento quando o ex-chefe o mandou a Levy Gasparian para acalmar a crise de outro aliado, Roberto Jefferson?

Ou quando fez vista grossa ao acampamento de extremistas em frente o QG de Brasília?

Outro que tem encontro marcado com a PF, amanhã, é o capitão, que anda bem preocupado com a teimosia de Moraes em manter a prisão do aliado, que já estava atrás das grades quando ele próprio confraternizava com a turma do Mickey...  

O ex-presidente teme que o que chamou de suplício – imaginem se Lula também tivesse dado esse piti durante os 580 dias em que esteve preso? – vire deduragem.

Quem estaria por trás das medidas tomadas por Torres, com quem o ex-mandante teve o cuidado de não se encontrar em Orlando para não correr o risco de sujar a própria barra?

O capitão confessa aos que ainda estão ao seu lado que tudo não passa de estratégia do inimigo de toga, leia-se Alexandre de Morais, para incriminá-lo pelo 8 de janeiro. Do qual, milagrosamente, tem conseguido sair ileso.

Não se sabe até quando. Porque tudo o que aconteceu foi exatamente daquele jeitinho que idealizou e tem conseguido driblar qualquer rastro deixado para trás.