Feitiço vira contra o feiticeiro

 

O feitiço começa a virar contra o feiticeiro. Era mesmo muita pretensão dos bolsonaristas criar a CPI dos Atos Golpistas - aberta ontem no Congresso - para culpar as vítimas. O capitão quer a participação de seus filhos Flávio e Eduardo para correr do prejuízo que se anuncia.

Os próprios correligionários do PL não veem como o ex-presidente possa sair ileso dessa, segundo Bela Megale. 

Ricardo Cappelli (foto), secretário-executivo do Ministério da Justiça e agora interino no GSI, comemora no site Congresso em Foco a decisão do ministro Alexandre de Moraes de tornar públicas as 160 horas de gravações do 8 de janeiro.

Agora todos os pratos estão postos na mesa. 

E levam a essas, entre outras conclusões: “Onde está o general Heleno? Alguém sabe? O general Heleno desapareceu. Um homem público, ministro de Estado, que sai das eleições e desaparece. Quem explica o sumiço dele?”

E o mais grave: “Onde é que está a valentia do general Heleno? Acho que o desparecimento dele fala por si.” Para Cappelli, as investigações da PF “muito possivelmente” indicarão que o militar, vinculado à linha dura do Exército teve alguma participação no 8 de janeiro.

“Todo dia recebo jornalistas que dizem que ele não recebe ninguém, não fala com ninguém. Por que se escondeu?”

A crítica é extensiva aos generais Walter Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos, do comando político do bolsonarismo. “Cadê eles? Cadê o Braga Neto, o fortão, o valentão? Alguém consegue falar com ele? Eram tão fortes que conduziram o governo deles para uma derrota.”

Segundo o ministro interino, 35% do efeito do GSI já havia sido substituído. Ontem começou com mais 29, depois, outros 58 afastados pelo ministro interino, de general a soldado. 

E, por confiar nas investigações em curso, Cappelli não vê sentido na abertura da CPI. “A agenda do governo com o Congresso deveria ser, por exemplo, aprovar o mais rápido possível o arcabouço fiscal, avançar na análise da reforma tributária… essa é a agenda que o Brasil espera.”

Para ele não há dúvidas do que aconteceu no 8 de janeiro. “Foi uma tentativa de golpe comandada por extremistas que se recusam a aceitar o resultado legítimo e democrático do povo brasileiro, que elegeu Lula presidente pela terceira vez.”

A boa notícia é o clima com a caserna. Em seu segundo dia no comando do GSI, Cappelli procurou o ministro da Defesa e o comandante do Exército e os três almoçaram juntos. “Há um clima de perfeita harmonia e colaboração”, resume.

Lula, porém, ainda terá que prosseguir em sua rota de conciliação com os verde oliva.