Desfecho da guerra às drogas?

 


Após ser interrompido em 2015 por um pedido de vista do falecido ministro Teori Zavascki, o STF retoma hoje o julgamento do recurso que pode permitir a descriminalização do uso da maconha. Livraria 70 mil dos 215 mil presos por tráfico de drogas do país.

A lei não proíbe o uso recreativo, apenas não distingue a quantidade que caracteriza usuário de traficante, o que enche os presídios brasileiros de pretos e pobres.

O STF analisa recurso extraordinário com repercussão geral - cuja decisão valerá para todos -, movido pela Defensoria de São Paulo em fevereiro de 2011 a favor de um réu condenado por 3 gramas de maconha na prisão. Por lei, a pena seria apenas prestação de serviços à comunidade ou comparecimento em curso educativo.  

Como lembra o jornalista Pedro Dória, por cinco mil anos a maconha fez parte da cultura da China, Índia, Babilônia e Egito, onde era usada sem restrições. Até que, em 1937 (ano da instalação do Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas), Harry Anslinger proibiu a cannabis recreativa.

Anslinger era o diretor do DEA, órgão dos EUA que acabava de perder sua função com o fim da Lei Seca que proibia o álcool. O objetivo era prender “negros, hispânicos, filipinos e artistas”, com sua “música satânica".

Leia-se, jazz e swing...

O cânhamo foi permitido até 1970, quando Nixon proibiu o uso geral da cannabis com a “guerra às drogas”, que saiu prendendo a rodo no mundo e no Brasil, sem nunca reduzir o consumo, enquanto turbinou a violência, mortes, perseguições infundadas e fortaleceu o tráfico de drogas.

O STF já tem quatro votos a favor, sem contar os prováveis votos de Cármen Lúcia, Rosa Weber e Cristiano Zanin. O conservador André Mendonça pode pedir vista, porém, já estará claro que a Corte tem maioria a favor da discriminação.

Rodrigo Pacheco esperneia, alegando que o Supremo quer legislar, quando, na prática, estará criando uma jurisprudência para preencher o próprio vácuo deixado pelo Legislativo. Por que ele mesmo não providencia a votação pelo Senado?  

Portugal descriminalizou a maconha em 2001, sem danos à segurança. Hoje, nos mesmos EUA que decretaram a guerra às drogas só 10% são contra a liberação da maconha, o que conquistou o apoio até do conservador Donald Trump.

Chega de prisões infundadas, mortes desnecessárias e fortalecimento da bélica – para fazer frente à repressão – indústria do tráfico. Hipocrisia que já deu!

 

Comentários

  1. Rodrigo Formel
    Problema aqui no Brasil é onde se consegue a maconha? Até onde sei cultivar permanece como crime e pode ser até configurado como tráfico. Se o usuário recreativo não pode cultivar e não tem onde comprar legalmente só descriminalizar é basicamente apoiar o tráfico. Para efetivar isso acho que seria importante legalizar o cultivo. Na verdade legalizar o cultivo deveria ser a primeira coisa a se fazer para depois se pensar em descriminalizar o porte. Faz sentido?

    Brasil sempre tem um jeito capenga de fazer as coisas.

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    1. A permissão a um limite de cultivo está embutida na decisão de hoje do STF

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    2. Professor Esdras Moscoso Júnior
      Muito lógica a sua colocação. Primeiro o cultivo, as formas de venda, arrecdação de impostos, normatizaçao para uso medicinal e, até, recreativo.

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  2. Tião Santos
    Paty é pioneira em produção de Canabis Medicinal, vale conhecer a APAEPI. eles têm uma fazenda que planta maconha e produzem o canabidiol. Eles têm uma sede no centro do Rio.

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  3. A informação acima de Santos foi útil para uma amiga que procurava, para um amigo, canabidiol para aliviar as dores de um tratamento de câncer e não estava conseguindo achar

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  4. Com décadas de atraso... Descriminalizar já!

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  5. Branca Moreira Alves
    Certíssimo! Essa „guerra às drogas“ só gera mais criminalidade e violência- como os anos de Prohibition mostraram por lá. Mas não conhecia a história da proibição. Tomara que passe no STF, pq no Congresso „evangelizado „ não passaria. O movimento de mulheres desistiu da luta pela liberação do aborto (com os limites sensatos) por isso. Corre-se o risco nesse Congresso de se perder até a permissão que já temos desde 1940!

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  6. Sonia Benevides
    As caravelas das grandes navegações eram tecidas de cânhamo ou maconha
    O Brasil teria sido descoberto sem esta planta?

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