A arrogância dos generais

 

Quando o general Marco Antônio Freire Gomes ameaçou prender o capitão caso ele levasse à frente o golpe, não é que ele estivesse 100% contra o ex-presidente. Sua reação à ordem de interromper a retirada dos acampados no QG do Exército confirma de que lado ele estava.

 “O Dutra é um irresponsável, um maluco. Mandei cancelar a operação”, blasfemou o general, conforme o Estadão, sobre a ordem dada pelo então comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, para a remoção do acampamento, em 29 de dezembro de 2022.

Freire Gomes argumentou se tratar de um grupo ordeiro, que não ameaçava. Quando foi dali que partiu o núcleo do quebra quebra para a Praça dos Três Poderes. Claro que todos sabiam o que era aquilo. De pacíficos não tinham nada.

Foi dali também que partiram os arruaceiros que atacaram a sede da PF, em 12 de dezembro, quando Lula era diplomado presidente. Assim como os envolvidos na tentativa de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, 12 dias depois. Era uma “incubadora de planos contra a democracia brasileira”, definiu Ricardo Capelli, secretário executivo do Ministério da Justiça.

Alguém acredita que o Exército ignorava o potencial destruidor daquela turba? Não há outra explicação senão vista grossa pela mais descarada adesão. Que militar iria aceitar a posse de um presidente que poderia acabar com todos os privilégios conquistados nos últimos quatro anos?

E ontem - não sei se é uma jabuticaba ou se a justiça de outros países também permite que depoentes permaneçam calados em interrogatórios oficiais -, o general Augusto Heleno não se calou na CPMI dos Atos Golpistas, apesar da permissão do ministro Cristiano Zanin, do STF.

Além de dizer ser "fantasia" que Mauro Cid participava de reuniões do alto comando, desmentido pela foto acima, encheu o ambiente com palavrões. “Ela (senadora Eliziane Gama) fala coisas que ela acha que estão na minha cabeça. Porra, é para ficar puto. Puta que o pariu”, vociferou.

Os demais envolvidos não só em malfeitos, como na delação premiada do ex-faz também optaram pelo silêncio. O almirante Garnier, aquele que teria disponibilizado suas tropas para o capitão dar o golpe, sumiu. Os ministros bolsonaristas, Luiz Eduardo Ramos e Eduardo Pazuello estão quietinhos. Assim como o próprio Freire Gomes.

Parece que o general Walter Braga Netto, encalacrado no escândalo de sobrepreço dos coletes balísticos, se dispôs a falar. Será que também vai proferir palavrões?

Seria a certeza de impunidade?