Atestado de golpismo

 

Agora sim, começou a esquentar. Após revelações sobre os dólares angariados com a venda de relógios, de menor importância, vem à tona o que realmente importa: o inelegível teria se reunido com a cúpula das Forças Armadas e ministros militares, logo após as eleições, para discutir a minuta que permitiria uma intervenção militar.

No caso, a pista seria o documento que estava no celular do ex-faz tudo, Mauro Cid: uma minuta de decreto GLO, diversa da encontrada na casa de Anderson Torres, como se sabe, desqualificada pelo ex-ministro. Segundo o UOL, foi entregue ao ex-mandatário pelo assessor, Filipe Martins.

O fato é que, colocada em prática, a minuta seria capaz de impedir a troca de governo, com a prisão de Lula, e concretizaria o malfadado golpe.

E quem levou a intenção do ex-presidente à cúpula militar?Cid, como revela sua própria delação premiada.

Ele testemunhou a gestação e debate sobre a minuta de golpe entre os líderes da caserna ao assistir a polêmica reunião.

O que mais criou tensão na cúpula das Forças Armadas foi a revelação de que o almirante Garnier Santos, comandante da Marinha, teria dito ao chefe supremo que a tropa estaria pronta a aderir a qualquer chamado seu.

Santos foi pinçado ao cargo pelo mi(n)to embora não tivesse predicados para exercê-lo. Passou quatro anos puxando o saco do chefe. Foi dele, por exemplo, a iniciativa do desfile daqueles enfumaçados tanques em Brasília para intimidar o Congresso, em agosto de 2021.

Quem hesitou ao golpe foi o representante do Exército, o general Freire Gomes, que não se interessou em aderir. 

Não que a questão esteja resolvida para a PF. Ao contrário dos desmandos ocorridos na Lava Jato, a delação de Cid é considerada uma preciosa bússola para as investigações. Não é, porém, a última palavra.

Para que os fatos narrados por Cid sejam considerados verdadeiros e os envolvidos responsabilizados legalmente, são necessárias provas para sustentar a denúncia. Daí o cuidado e o sigilo com que a PF tem agido nesse caso.  

E, como se vê, não só o capitão treme nas bases, embora finja o contrário. Os militares também se apavoram, sobretudo a cúpula das Forças Armadas e ministros fardados.

O cerco, portanto, se fecha. Será que dessa vez veremos os  militares do olimpo castigados? Será que finalmente o Brasil vai entender que anistias só fazem perpetuar o arbítrio?

É grande a preocupação na caserna  sobre os efeitos que o relato de Mauro Cid possa trazer, sobretudo por envolver membros da cúpula militar e ministros que, apesar de estarem na reserva, já foram generais de alta patente.