O indiciamento do capitão

 

Mais clássico exemplo de feitiço que vira contra o feiticeiro, o relatório da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI dos Atos Golpistas, será lido no dia 17 de outubro. É dado como certo o pedido de indiciamento do capitão por quatro crimes cometidos durante seu mandado.

São eles: golpe de Estado, escuta telefônica ilegal, incitação ao crime e autoacusação falsa. O inelegível será associado aos sucessivos ataques à Justiça Eleitoral e tentativas de golpe, que desembocaram no quebra quebra do 8 de janeiro.

Entre os governistas, a senadora terá apoio de 21 dos 32 integrantes, número que ultrapassa os 17 votos necessários para assegurar a aprovação do relatório.

Embora os opositores admitam o erro de cálculo, eles já cogitam apresentar um texto paralelo absolvendo o mi(n)to. Segundo o colunista Lauro Jardim, eles também ameaçam não comparecer à leitura do relatório. 

“A oposição termina numa situação muito ruim, porque não tem carta na manga”, admitiu um experiente parlamentar da CPMI à jornalista Malu Gaspar. O entusiasmo inicial do grupo é atribuído à sua ignorância sobre política.

O depoimento do hacker Walter Delgatti Netto teve papel fundamental no desfecho para que o inelegível fosse enquadrado, por exemplo, nos crimes de golpe de Estado, pela simulação de fraude nas urnas para desestabilizar o pleito eleitoral. A pena é de quatro a 12 anos de prisão.

Fora a escuta telefônica ilegal pelos supostos grampos clandestinos contra o ministro Alexandre de Moraes. A pena é de dois a quatro anos.

Já a pena de três meses a dois anos é atribuída à sugestão para que o hacker assumisse a falsa autoria do grampo contra Moraes, que causaria indiciamento por participação no crime de autoacusação falsa.

Já a indução no delito de incitação ao crime caberia pela promessa de indulto a Delgatti e sinalização de que os juízes seriam presos se agissem contra ele. Pena de três a seis meses.

Os quatro crimes poderiam render 18 anos em cana, se adotadas as penas máximas para cada um deles.

A lista de crimes, contudo, pode aumentar, com as investigações sobre se o ex-presidente teria se reunido com a cúpula das Forças Armadas para discutir a minuta de Filipe Martins que permitiria uma intervenção militar, resultadas da deleção premiada do ex-faz tudo Mauro Cid.

Fora o fato dele ter virado réu em primeira instância pela ameaça de estupro à deputada Maria do Rosário.

Será que esse tão desejado dia vai mesmo chegar?