Dino, o alvo preferencial

 

Quando o capitão pintava e bordava durante seu governo, era um consolo ouvir a voz ponderada de Flávio Dino, que chegou a ser apontado como alternativa à presidência.

Embora seu estado natal e a filiação ao PSB prejudicassem.

Pois Lula encontrou um lugar sob medida para ele, com espaço sobressalente para seus quilos extras. Tão perfeito que o troco não custou a vir a cavalo.

Conforme a Revista Fórum, quando Dino anunciou no início de outubro investimentos de R$ 900 milhões para combate ao crime organizado e, um mês depois, criou o Comitê Integrado de Investigação Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra), para rastrear o caminho percorrido pelo dinheiro do que ele chamou de “narcomilícias”, começou a fritura.

De parte dos governistas e sobretudo da oposição.

“É um escárnio, um absurdo, inaceitável que os industriais da morte estejam com mansões em Angra dos Reis, avião, helicóptero. Isso é um tapa na cara dos cidadãos honestos do país”, argumentou ele o lançar o Cifra.

O primeiro a embarcar na lorota plantada pelo crime foi o Estadão. A própria Luciane Farias, mulher do Tio Patinhas, surpreendeu-se com o apelido “dama do tráfico”, inexistente. O bombardeio teve o poder de afastar o nome de Dino da próxima cadeira a ser preenchida no STF.

A “chefona” do narcotráfico virou aliada e próxima de Dino e de integrantes do governo Lula, como sugere a farsa plantada por bolsonaristas – estes sim, íntimos desse território minado.

Sim, a criatura condenada por associação ao tráfico foi aos ministérios de Direitos Humanos e da Justiça. Só viu Dino do corredor e foi recebida por funcionários de baixo escalão, que o ministro se recusa a demitir para não cometer uma injustiça.

Para Lula, porém, a idoneidade de seu ministro permanece intacta: “Minha solidariedade ao ministro Flávio Dino, que vem sendo alvo de absurdos ataques artificialmente plantados”, solidarizou-se.

Eu mesma já disse aqui que ficaria em dúvida sobre a mudança de cadeiras, dada a competência com que Dino desempenha seu papel de ministro da Justiça. 

Defender a democracia, combater o armamentismo selvagem, enfrentar o crime organizado, do tráfico às milícias, e proteger a Amazônia são razões de sobra para despertar ódio.

Alguém tentou fazer algo parecido no governo anterior? Não, porque faltava coragem (ou interesse). Dino, contudo, está pagando o preço pela sua sede de Justiça.