Judiciário entra na coalizão


 

Como se sabe, FHC inaugurou o sistema de coalizão em seus dois mandatos (de 1995 a 2003). Lula e Dilma deram continuidade ao método, em que o Legislativo era submetido ao Executivo e ao Judiciário.

Vivíamos sob regime presidencialista, com o poder concentrado nas mãos do Executivo. Não era um parlamentarismo ou semipresidencialismo.

A balança começou a mudar na gestão do inelegível, que entregou as contas do país ao orçamento secreto, pelo qual o Legislativo passa a controlar os gastos do país.

Tudo para não sofrer impeachment, com o auxílio luxuoso e comprometido de Augusto Aras, na PGR.

Agora, Lula assume um sistema cheio de vícios, dos quais tenta se livrar. Na interpretação do cientista político Christian Lynch, o presidente instaura uma nova modalidade, que passa a incluir o Judiciário nessa equação. Inicia-se assim um novo modelo de governabilidade. Que pode ter vindo para ficar.  

É como se o Supremo passasse a ser uma terceira câmara do Legislativo, tendência inaugurada com a indicação de Flávio Dino para a Corte e a entrada de vez da política em cena.

“A partir de 2013 e com a Lava-Jato, o Congresso era não só subordinado ao Executivo, como ao Judiciário. O poder mais amesquinhado de todos era o do Congresso e ele percebeu que tinha que recuperá-lo para sobreviver”, defende.

Acontece que em sua terceira gestão, Lula assume com o Centrão sem querer abrir mão do poder adquirido e fica cada vez mais difícil aprovar medidas provisórias. É o começo do que Lynch chama de “Arca de Noé”, ou seja, botar todos para dentro, só ficam de fora o capitão e a extrema-direita.

Após o 8 de janeiro, Lula percebeu que precisa incluir o STF e convida os magistrados para churrascos para equilibrar sua balança. O que o Congresso não dá agora, o STF dará adiante.

“Facilita a governança, porque ele consegue boa vontade em julgamentos estratégicos. O que é o Gilmar Mendes senão um senador? Agora será preciso nomear políticos para o STF como se nomeia para o TCU”, propõe Lynch.

Na verdade, a tendência foi inaugurada pelo inelegível, com a nomeação de Augusto Aras para a PGR e de André Mendonça e Kássio Nunes Marques para o Supremo:

“A era de ministros liberais-republicanos, de professores, acabou. Agora nenhum modelo poderá deixar o STF de fora”.

A grande diferença entre o ex-mandatário e o atual é que o primeiro queria destruir a Corte. Agora, Lula quer cooptá-la. Tudo partiu do próprio presidente, e não do general de plantão. Vamos ver que bicho isso vai dar...

 

Comentários

  1. Carlos Minc
    🤔💪🏽😍🎷💃💥🌏🚴‍♀️🥸🪘🌲💚🌈🪗

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  2. Carlos Peixoto Filho
    preocupante com esse e com qq outro governo. um congresso tão desequilibrado por interferência de interesses setoriais - agro, bíblia, bala - não pode mandar no dinheiro. é ruim até para a missão constitucional dele, que é fazer leis - o marco temporal é um bom exemplo dessa disfuncionalidade.

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  3. Carlos Antonio Mendes
    Análise Perfeita!!!...A diferença que O Executivo com Lula o povo está contemplado porém no Futuro se Extrema direita volta e o STF se juntar a Ela aí será um caminho pavimentado para uma Ditadura das mais Cruéis pq se a Justiça for injusta recorrer a quem????.....

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  4. Christina Dezouzart Cardoso
    Uma tristeza. Só retrocessos.

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  5. Joizael Barros
    A corte tem governar conforme a constituição. É isso que ela tá fazendo para o bem do Brasil.

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  6. Miguel Francisco Hatzlhoffer
    O problema com o legislativo começou com a proliferação de partidos políticos, que se tornaram partidos de aluguel, que nem tem pretensão de conseguir eleger candidatos ao executivo, mas sabe que quem estiver lá precisará "comprar" seu voto para governar.
    Mas quanto ao inelegível, isto é fato: ele se elegeu sem uma base no congresso e teve que gastar muito mais para comprar apoio.
    O Brasil não deveria ter mais que 5 ou 6 partidos, e assim, quem se elegesse conseguiria negociar uma base capaz de garantir votos para seus projetos.
    Hoje, a cada recesso parlamentar o Artur Lira faz novas exigências ao Lula para que os projetos do governo entrem na agenda, e também para que passem pela Câmara.
    E vemos passar pautas bombas, coisas que dificultam a vida do governo, e para medir força com o executivo.

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    1. Reinaldo Müller
      Caro Miguel Francisco Hatzlhoffer, a sua "outra" leitura, se me permite dizer, nada mais é do que uma "radiografia" fiel de nossa patologia política!

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  7. Carlos Henrique TrindadeVer perfil de Carlos Henrique Trindade
    (He/Him) • 1º
    Educo para um mundo melhor.
    1 h
    Admiro muito os seus comentários aqui, mas dessa vez tenho que respeitosamente discordar. O sistema de coalizão surgiu com a constituição de 1988 e depois com o fracassado plebiscito. Os políticos preparavam o Brasil para um parlamentarismo, mas o povo o rejeitou. Assim, hoje temos um sistema político em que o presidente é refém do legislativo. E como o sistema favorece partidos de aluguel, e fisiologismo, vivemos essa troca de favores que vem sim desde FHC, com o pagamento de parlamentares para a votação da reeleição. Lula continuou o sistema, e qualquer um que queira quebrá-lo será retirado do poder, vide Collor e Dilma. É um problema sério mas está longe de ser resolvido porque quem legisla é beneficiado.

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  8. Reinaldo Müller
    Olá Celina Côrtes! Como vai? Nossa! Você é tão inteligente que me deixa "corado". Impressionante. Vou "repostar" tão somente um trecho de seu "post":
    "A balança começa a mudar na gestão do inelegível, que entregou as contas do país ao orçamento secreto, pelo qual o Legislativo passa a dar as cartas sobre os gastos do país. Tudo para não sofrer impeachment". (suprimi o nome do Augusto Aras. Este jamais faria qualquer coisa contra o "ex"-mandatário).

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    1. Pelo amor de Deus Reinaldo, exagero seu!!!

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    2. Reinaldo Müller
      Celina Côrtes, "nénão". rsrs. Não seja modesta.

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  9. Fábio Rodrigues de Ávila
    Não existe neutralidade no STF. É preciso equilibrar os pesos entre os interesses da classe trabalhadora e das elites econômicas que lá são representadas há tempos...

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  10. Cristina Reis
    A corrupção no Brasil já era organizada, e agora institucionalizou-se oficialmente, tornando-se Orçamento Público Participativo que a população não mais decide sobre políticas públicas, se é que algum dia decidiu.
    Fora as emendas impositivas individuais (dirigidas a cada senador e deputado) e as de bancada (destinadas às bancadas estaduais), mais o Fundo Eleitoral, e não satisfeitos, enfiaram as emendas para mais de 23 comissões e a Mesa Diretora que através do Orçamento Secreto que tanto os Presidentes do Senado e Câmara distribuirão conforme o seus interesses eleitorais que o STF considerou inconstitucional.
    A previsão é de quase 50 bilhões, nas mãos do Congresso, e olha o que o Lula terá que fazer de contingenciamento para que a conta feche em 2024. Algum parlamentar está preocupado com isso? Acho que não, pois a farra é livre.

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  11. Alcebiades Abel Filho
    Administrador
    Concordo com essa narrativa.

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  12. M Christina Fernandes
    Complicado entender esse novo regime político, já é o tal do semipresidencialismo?

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  13. Jean Schleuderer
    A cooptação da Suprema Corte poderá nos ser tão ou mais danosa (para a República e, assim, em decorrência para a democracia) do que as tentativas de seu enfraquecimento aventadas por JB.
    Lula cooptou o Legislativo com o Mensalão e o Petrolão.
    JB fez a mesma coisa com o Orçamento Secreto.

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