Futuro incerto de Ramagem

 

Alexandre Ramagem, então diretor da Abin, atual candidato do PL à prefeitura do Rio, usou o órgão para favorecer a familicia Bolsonaro com espionagem ilegal. 

Foi essa uma das principais motivações da operação “Vigilância Aproximada”, da PF, autorizada ontem pelo ministro Alexandre de Moraes em Brasília, Minas e Rio, com 21 mandados de busca e apreensão.

Moraes retirou o sigilo da operação, continuidade da Última Milha, de outubro de 2023, que apurava o acesso ilegal a 33 mil pessoas opositoras ao inelegível entre 2019 e 2021 pelo programa israelense First Mile, sem autorização judicial.

Segundo a jornalista Julia Dualibe, o esquema também foi usado para monitorar a promotora Simone Sibilo, responsável pelas investigações do assassinato de Marielle e Anderson, em 2018. Não se sabe com que objetivo. Dá para supor, porém.

O First Mile, adquirido por R$ 5,7 milhões no fim do governo Temer com recursos públicos, sem licitação, é uma ferramenta de geolocalização para identificar os movimentos de seus alvos por seus celulares.

Como se sabe, Ramagem é amigo da família e participou da escolta do então candidato à presidência em 2018. Foi indicado à diretoria-geral da PF quando o capitão demitiu Maurício Valeixo, após a conturbada saída de Sérgio Moro do ministério da Justiça. Só que Moraes suspendeu a indicação.

Ramagem elegeu-se deputado federal pelo Rio em 2022. Conforme a jornalista Malu Gaspar, a PF chegou a pedir o afastamento de suas funções, negado por Moraes por "desvio de finalidade", ou uso particular - como se vê nessa operação.

No ano passado, a PF já havia concluído que o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e usou ferramentas e serviços da agência de inteligência do Estado para ações ilícitas de escuta, independentes do Estado.

Entre as suspeitas da PF, estariam dados e provas fornecidos a Flávio Bolsonaro sobre as rachadinhas, de quando ele era deputado estadual. E ainda para livrar Jair Renan de ter feito lobby com empresários.

De acordo com a jornalista Daniela Lima, a Abin teria monitorado ilegalmente os ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, entre muitos outros.

Durante jantar com Gilmar Mendes na residência oficial da Câmara dos Deputados, Maia falava no telefone com o ministro Luís Roberto Barroso quando bolsonaristas começaram a vazar nas redes sociais que Gilmar estava na residência oficial tramando contra o governo Bolsonaro.

Pelo visto, o futuro de Ramagem é cada vez mais incerto. Ontem o vereador Carlos Bolsonaro anunciou que será o coordenador do candidato do PL à prefeitura do Rio.

Trabalho é o que não vai faltar...