Pastores choram leite derramado

 

Entre as várias (fracassadas) medidas eleitoreiras do inelegível está a isenção de impostos a pastores de todas as crenças, decretada em 29 de julho de 2022, às vésperas, portanto, das eleições. Como se sabe, a maracutaia, não aprovada por setores do TCU, acaba de ser suspensa por Robinson Barreirinhas, Secretário da Receita Federal.

Conforme o colunista Otávio Guedes, correm 26 processos administrativos e um judicial (só este, de R$ 177 milhões) questionando o tributo, suspensos enquanto tramitam. Há quatro processos com dívida reconhecida e outros 12 parcelados, que somam R$ 293.753.452,97.

São recursos que dariam para pagar 428,4 mil famílias do Bolsa Família, que é o que deveria de fato preocupar cristãos como os pastores evangélicos, os únicos a reagir à medida.

O que eles têm de tão especial para serem poupados de pagar os mesmos impostos que o resto da população? Votos, responderia o capitão.

Um dos mais irados com a perda da boquinha foi o pastor bolsonarista Silas Malafaia (foto), que mobilizou sua tropa de choque no dia 26 de novembro para pregar pelos direitos humanos, pela morte do golpista Cleriston Pereira da Cunha, o Clezão, que morreu na cadeia enquanto estava detido..

E as famílias que deixam de ser alimentadas para garantir a mordomia dos pastores? Claro que isso não importa a mínima para eles. Imediatamente Malafaia postou no X, dizendo em letras garrafais que era MENTIRA o benefício concedido pelo mi(n)to. Pior que seus fieis vão acreditar...

A pastora Damares Alves saiu da sua inação no Senado pelo mesmo caminho, acusando o governo Lula de perseguição religiosa. Assim como Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da bancada evangélica, e o pastor Magno Malta.  

Claro que essa gente vai mobilizar os evangélicos como o diabo na cruz para voltá-los contra o governo Lula. Afinal, hoje são 146 parlamentares com poder de lobby.

A medida do governo anterior chamava-se Ato Declaratório Interpretativo RFB nº 1. Previa a isenção de impostos em salários e remunerações pagas pelas igrejas aos pastores, “em face do mister religioso ou para a subsistência, não são considerados como remuneração direta ou indireta", era a manobra para a tal isenção.

O ato foi assinado pelo então secretário da Receita Federal, Júlio Cesar Vieira Gomes, o mesmo que tentou liberar as joias recebidas pelo ex-presidente, apreendidas pela alfândega no Aeroporto de Guarulhos. Gomes foi exonerado em 2023.

A medida da Receita, para lá de justa, será vingada pelos pastores e poderá se traduzir em mais um abismo entre o governo Lula e os evangélicos. Lamentável.

Ontem, Carlos Viana, presidente da Frente Parlamentar do Senado, teve uma longa conversa com o ministro Fernando Haddad. Ambos voltarão a negociar o tema em fevereiro.