Nisia intervém em hospitais federais do Rio

Ser ministro da Saúde no Brasil não exige só competência e honestidade, como também coragem para enfrentar as máfias que só têm cifrões nas pupilas. E é isso que acontece agora com na gestão de Nísia Trindade.

A ministra demitiu ontem Alexandre Telles, responsável pelos hospitais federais do Rio e acaba de decretar uma intervenção nestas unidades, comandada pelo secretário nacional de Atenção Especializada à Saúde, Helvécio Magalhães. Durou pouco, já foi trocado por Maria Aparecida Braga.

A ideia é esvaziar o poder dos diretores apadrinhados por políticos. Sobretudo do Centrão.

Relatório do TCU de agosto de 2023 identificou, por exemplo, quase R$ 100 milhões em contratos sem licitação entre 2019 e 2021 no Hospital Geral de Bonsucesso.

Causa: a unidade era controlada por apadrinhados de Flávio Bolsonaro, que teria indicado os três ex-superintendentes do ministério da Saúde no estado, além do coordenador-geral dos hospitais federais, na época, Marcelo Lamberti.

As demissões de Telles e Helvécio ocorreram após denúncias do Fantástico. O programa mostrou que o orçamento de seis hospitais federais - referências no atendimento de alta complexidade, como tratamento de câncer, cardiologia e transplantes - em 2024 passa de R$ 862 milhões. 

Pois bem, em 2023 estes hospitais, com quase 48 mil internações e cerca de 43 milhões de atendimentos ambulatoriais, deixaram mais de 18 mil pacientes na mão.

Muitos do setores destes hospitais têm aparelhos médicos quebrados, caixas de materiais vencidos ou danificados, como os utensílios cirúrgicos e próteses ortopédicas, avaliados em mais de R$ 20 milhões.

Já em maio de 2023, o ex-diretor-geral do Hospital Cardoso Fontes, Gustavo Albino Pinto Magalhães, pediu exoneração diante das denúncias pela obra feita sem licitação para instalar isolamento acústico em seu gabinete.

Enquanto pacientes sofriam com a falta de utensílios básicos como algodão, fralda, luvas, agulhas, soro fisiológico, avental descartável para cirurgias e fio de nylon, entre outros.

A portaria ministerial – que criou um comitê para discutir a reformulação da rede e preparou um edital para contratar 500 profissionais - tem ênfase nas compras realizadas pelos hospitais. Hoje, cada unidade tem autonomia quase total, o que encarece os produtos e despadroniza a rede.

Há de se concluir que é preciso muita coragem para cutucar esse vespeiro...