Algoritmos e redes são os vilões

 


As jornadas de junho de 2013 não foram exatamente a origem do nascimento da extrema direita no Brasil. Uma explicação mais plausível para isso, não só em relação ao Brasil como ao resto do mundo, foi a instalação de algoritmos pelo Twitter e Facebook para direcionar o que vemos nas redes, em 2013.

Como explica o jornalista Pedro Dória no Canal Meio, o matemático holandês Petter Törnberg (foto), da Universidade de Amsterdã, é quem melhor conhece este cenário, em suas análises sobre as interações sociais iniciadas em 2013.

Para Törnberg, são dois os problemas centrais: o algoritmo e as próprias redes sociais.

O Facebook e o Twitter recorreram aos algoritmos para faturar com a venda direcionada de publicidade. Os algoritmos decifram nossas identidades e as agrupam com outros que tenham traços semelhantes. Então, o que seria uma meia dúzia pode se transformar em milhões.

Isso originou suas respectivas fortunas.

Ao alinhar as identidades, por sua vez, os usuários das redes tornam-se passivos. Passam a integrar agrupamentos de centenas de milhões com interesses comuns. Ou, massas uniformes, de forte impacto psicológico.

Já o alinhamento gera bolhas, onde as pessoas interagem com pessoas diferentes de forma muito mais intensa que no mundo real. E assim os muito parecidos geram uma sensação de conforto. Enquanto os diferentes, de repulsa.

E, para destacar semelhanças e diferenças é preciso investir nas divergências, para gerar reações de indignação. Quanto mais intensas elas são, mais prêmios com likes, comentários e compartilhamentos. Se indignar com uma injustiça vira um vício, e os posts indignados são os que mais viralizam.

As redes premiam a indignação permanente. Daí a polarização galopante e descontrolada com a qual passamos a conviver. As fake news não passam de sintomas desse quadro,

“Talvez o principal problema do debate público sobre regulação das plataformas digitais é o quanto ele se descolou do conhecimento acadêmico”, especula Pedro Dória.

A fórmula para desfazer a barafunda na qual se meteu a humanidade está longe de ser encontrada. E hoje quem melhor domina o perverso mecanismo é a extrema direita.

Comentários

  1. Paulo Varella
    Me fascina essa avaliação sobre bolhas nas medias sociais. Será que é tão diferente à media escrita e televisiva de antes? Nasci em 64 e cresci com jornais e tv controlando o que eu podia conhecer, tive aulas de "Educação Moral e Cívica" na educação básica e "Estudos dos Problemas Brasileiros" na USP. Baita lavagem cerebral coletiva no Brasil todo. Não funcionou no meu caso, assim como muitos outros; aliás funcionou aos avessos.
    Um outro ponto, se essas bolhas e algoritmos forem tão poderosos assim, qual é a minha bolha então? Qual a sua Celina? O que é que não vemos ou o que exageramos pela ênfase exagerada das medias sociais?
    Só perguntas, não tenho respostas a ambos os questionamentos.

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    1. Meu caro, vi nessa explicação uma resposta até então inexistente para mim. O ano de 2013 continua a ser estudado, aqui aconteceu um fenômeno que ninguém conseguiu entender na época, e não foi só aqui. A direita começou a mostrar a sua cara (antes era ela envergonhada, lembra?) e concordo que os algoritmos foram fundamentais nesse processo. Minha bolha é a da esquerda, e anda atordoada por um movimento sufocante, do mal, ao qual não temos conseguido reagir.

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    2. Miguel Francisco Hatzlhoffer
      Paulo Varella sim é muito diferente hoje. A TV tenta medir a audiência, a quantidade de aparelhos ligados no programa, mas não dá para saber quantas pessoas estão vendo e nem se estão prestando atenção.
      Já nas mídia sociais, por exemplo o LinkedIn, ele está cronometrado o tempo que estou respondendo para você. Ele sabe se estou te criticando, complementando a informação ou te elogiando, e assim ele sabe o que me apresentar para que fique o maior tempo possível conectado no LinkedIn. O mesmo vale para o Facebook, X, Tictok, YouTube e outros. Os algoritmos tem o objetivo de conhecer o perfil de cada usuário e tentar segurar a atenção de cada um para que fique o maior tempo na rede, e então começa a criar bolhas com pessoas com perfil parecido e assim dividir os posts entre pessoas de gosto comum.
      As vezes, se você criticar uma pessoa, ele também mostra os novos comentários desta pessoa para que você possa gerar comentários e engajamento.
      Outros tempos.

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  2. Jean Schleuderer
    Muito bom.
    Nisso reside a provável vitória do fascismo.
    E aqui também entre nós.
    Pois as redes sociais são domínio absoluto da extrema direita.
    E para os pós-verdadeiros não existe outro meio de comunicação.

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  3. Jean Schleuderer
    Outro dia vi aqui um vídeo de uma patriota voltando pra casa depois de solta da cadeia.
    Uma mãe e seus filhos se abraçando em lágrimas.
    Nenhuma fonte, referência, nomes nada.
    Um vídeo caseiro.
    Mas, eles o tomam como óbvia e inquestionável verdade.
    Não há como combater isso. A mais absoluta falta de escrúpulo. Que é o que melhor caracteriza a selvageria humana.

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    1. Fatima Melo
      Jean Schleuderer uauuuuu👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼 eu tinha dois anos!

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    2. Reinaldo Müller
      Sem dúvidas, Jean Schleuderer: assustador!

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  4. Reinaldo Müller
    Brilhante exposição-digressão, Celina Côrtes.

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  5. Miguel Francisco Hatzlhoffer
    O Facebook tem servidores que cronometram o tempo que você fica num post, se você curte, se escreve e se é positiva sua percepção sobre o post.
    O interesse do Facebook é te manter conectado, então vai procurar postagens parecidas para te apresentar, mas ele mede outros usuários que são parecidos e, de acordo com a reação deles, o Facebook vai te apresentar o mesmo post, e assim está montada a bolha.
    Se antes tínhamos o jornal escrito, o rádio é a TV que falavam de forma abrangente, aberta e genérica, as mídias como Facebook, Twitter ou X, Tictok, LinkedIn entre outris, sabem exatamente o que te entregar, sabem exatamente o que cada usuário gosta. Hoje os algoritmos nos conhecem mais do que nossas esposas e mães.
    E tem pessoas, como Steve Bannon, guru do Trump e da extrema direita global, que ensina os integrantes da extrema direita em como criar e manter suas bolhas.
    Por isto o papel importantíssimo do ministro do Supremo, o Alexandre de Moraes. Ele não impede as bolhas, mas vem buscando proibir que as pessoas sejam manipuladas através de FAKE NEWS, e por isto se torna importante a regulamentação das redes.

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    1. A meu ver a regulação das redes é uma questão de vida ou morte para a democracia

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    2. Jean Schleuderer
      Absolutamente correto.
      Com a regulação ao menos tentaremos.
      Sem ela corremos sério risco de suicídio.

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  6. Lícia Queiroz
    Apesar do cenário desolador, pelo menos há uma explicação. No fundo tudo se resume a dinheiro (publicidade) e ideias (semelhantes e diferentes). De fato, a herança m@ldita é a que ficou!

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  7. Vitor Morais
    Aí estão as bolhas conformista, sem enfrentamento com divergentes...

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  8. Julio Vasconcellos
    Não conheço o estudo e concordo. Isto posto, cabe ressaltar que havia um espaço a ser ocupado pela direita mundial! Não é preocupante? O estado de bem estar social começou a se esgarçar
    A ultradireita conseguiu se adaptar às redes e aos algoritmos rapidamente? Ok, é verdade até hoje, em especial no Brasil, mas há que se estudar também as causas. O que dizem a esquerda e a centro esquerda?
    Tá ruço!

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    1. Tá russo mesmo, a esquerda precisa se coçar o quanto antes

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  9. Jean Schleuderer
    Celina Côrtes
    Não é a bolha da direita democrática.
    E a da extrema direita fascista.
    E não é uma bolha.
    Apenas parece um bolha.

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