A falta que o liberalismo faz
Neoliberalismo demais e liberalismo democrático de menos. Esse é um dos
males que assola o Brasil e está por trás de nossas mazelas, como a calamidade no Rio Grande do Sul.
Não seria exagero dizer que a crise da democracia, o crescimento da
extrema direita e a incapacidade de admitir as mudanças climáticas são
consequências do enfraquecimento do liberalismo. O que também anula o Centro político,
porque só os extremos atraem seguidores.
Conforme o filósofo americano John Rawls, o liberalismo, ou a democracia
liberal, não só dá suporte intelectual à democracia, como é plural e tolerante.
E a tolerância aceita a existência de diversas correntes de opinião.
O que se vê hoje é justamente intolerância com a pluralidade, mais
visível na extrema direita, como por exemplo na ditadura de Viktor Órban, na Hungria, onde ele criou a “democracia iliberal”. Tem eleições, sem ser plural ou
tolerante.
O filósofo britânico John Stuart Mill (ilustração) associou o princípio do dano ao liberalismo: nossa liberdade termina quando causa dano aos outros. Para o liberal o que é público, como a praça, as matas, os rios, a rua, as praias e o bem-estar deve ser zelado por cada cidadão. E o Estado tem a função de garantir que ninguém cause dano a estes bens.
Num país realmente liberal, o combate às mudanças climáticas seria
prioridade zero.
O Estado liberal torna-se ausente quando não há equilíbrio. Mexe-se de um lado, desarruma-se do outro.
Como se sabe, estamos na era das transformações tecnológicas, que eliminam empregos com bons salários para quem
não tem ensino superior. O Brasil, que sempre foi desigual, tende a ficar mais
desigual ainda.
Os tais empregos bem remunerados nasceram com o operariado da
social-democracia europeia no século XX. Só que o mundo digital não funciona assim,
enquanto as big techs são as mais ricas empresas da história do
capitalismo.
Os governos liberais, por sua vez, deveriam cuidar do que é comum a todos. Como o Meio Ambiente. Deveriam construir uma rede de bem-estar social que reduzisse as desigualdades impostas pelo mercado, para permitir oportunidades iguais e dignidade a todos.
Só que o liberalismo
está mais ausente. Justo quando é mais necessário. (Fonte: Pedro Dória, no Canal
Meio).
Fábio Rodrigues de Ávila
ResponderExcluirEsse liberalismo pensado pelo Rawls e Mill nunca foi uma realidade em parte alguma do mundo. Talvez no interior de uma democracia liberal, mas às custas da expropriação dos outros. Porém, há de se concordar, qualquer autor liberal clássico, como Adam Smith ou o próprio Mill, ficaria horrorizado com o neoliberalismo...
ResponderExcluirJean Schleuderer
O 'pior' se reflete no fato de que nestes novos tempos apenas os extremos atraem seguidores. A simples democracia, que se alterna em governos republicanos, é execrada como 'isentona' por ambos os extremos.
Comentários à sua postagem talvez venham a refletir isso.
Gui Guimarães
ResponderExcluirNos anos 70 eu li que 80% da população chinesa estava envolvida na produção de alimentos. Mao Tse Tung impedía a mecanização das lavouras para manter o povo empregado. Eles ganhavam uma miséria do estad
o mas tinham trabalho e comida. Na época, achei que era uma sábia solução. A mecanização só enriquece os ricos.