Com vocês, o pior Congresso

 

Quando Ulysses Guimarães proferiu sua célebre frase – “Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima: será pior". Era o ano de 1991 e ele jamais poderia imaginar que chegaríamos ao ponto em que chegamos.

Ao ponto da surpresa causada pelo comportamento do cordato Fernando Haddad em sua última audiência no Congresso. Parecia que o ministro da Fazenda tinha incorporado um Flávio Dino, com suas cortantes ironias.

“Só dois presidentes deram calote: Collor e Bolsonaro. Aí vem Lula e paga o calote. ‘Ah, olha o déficit que o presidente Lula fez’. Esse déficit não é nosso. O filho é teu, tem que assumir a paternidade, faz o exame de DNA que vai saber quem deu calote”, reagiu Haddad à provocação de um desaforado bolsonarista.

Por quê a mudança do ministro?

Simplesmente porque a extrema direita, sobretudo o bolsonarismo, tomou conta daquele nobre e cada vez mais degradado espaço legislativo, onde as baixarias, palavras chulas, deboches e intolerância predominam. Cada vez mais.

Comecemos por um tal deputado do baixo clero que disse à colega Maria do Rosário que não a "estupraria" porque ela "não merecia" por ser "muito feia". 

O que além de tudo não é verdade.

A composição reacionária da Câmara já diz tudo. Só a Frente Parlamentar de Segurança Pública, vulgo Bancada da Bala, congrega 240 deputados de ampla capilaridade nos principais partidos. É aquela do bandido bom é bandido morto. Já a Frente Evangélica, aquela das trevas nos costumes, reúne 228 membros, 202 deputados federais e 26 senadores.

Já o PL, maior partido da Câmara - seguido pela Federação PT, PCdoB e PV, com 81, e União Brasil, com 59 – possui 95 representantes. Para começar, é o partido do inelegível, a quem os demais prestam vassalagem. E ainda por cima usurpa o título Liberal, quando é uma negação do liberalismo.

Como se sabe, a teoria criada no século XVII por John Locke prega o pluralismo, a tolerância, a importância do Estado em proporcionar o bem estar social e a igualdade. Alguém é capaz de ver alguma dessas características no PL?

Como diz o teólogo Ronilso Pacheco, “enquanto houver bolsonaristas no Congresso, não esperem embates razoáveis, técnicos ou mesmo provocações com algum limite. O bolsonarismo transformou o deboche, o desrespeito, a zombaria e os palavrões em linguagem comum.”

Chegamos a esse tenebroso cenário pelo poder exercido pela extrema direita sobre as redes sociais, que seguem desgovernadas, terra sem lei que atrai votos nestes trastes.

É o que deseja Arthur Lira, o representante mor dessa trágica e atual versão do nosso Parlamento.