A inversão do juízo de ética

 

Quando vivemos aqui os prósperos anos FHC e Lula, jamais poderíamos imaginar a reviravolta vivida não só pelo Brasil, como pelo que conhecemos como mundo civilizado. Se o Lula 3 trouxe algum respiro, o reacionarismo de nosso Congresso insiste em nos transportar para essa maré tão estranha. Ouso dizer, do mal.

Como postou a querida Vera Barredo, o filósofo italiano Franco Berardi propõe em trecho de seu texto "Brutalismo supremacista libertário" que estamos diante de uma verdadeira inversão do juízo ético: os americanos votam em Trump justamente porque ele é estuprador e mentiroso.

Já os israelenses apoiam Netanyahu porque ele pratica genocídio, compensando a profunda necessidade de reparação dos descendentes das vítimas de um genocídio passado.

Enquanto os jovens argentinos seguem Milei porque acreditam que, finalmente, os melhores serão capazes de se sobressair e os demais passarão fome como merecem.

E olha que quando o texto foi produzido Berardi ainda não conhecia os resultados das eleições no Parlamento Europeu, que deu à extrema direita a maior vitória do pleito. Na França, o Reagrupamento Nacional, de Marie Le Pen (foto), levou o dobro da coalizão de Emmanuel Macron.

Macron dissolveu o Parlamento e antecipou novas eleições, para tentar deter este movimento.

E, na Alemanha, que passou décadas se curando das feridas do nazismo, o conservador Alternativa para a Alemanha (AfD) ficou em segundo, enquanto a italiana Giorgia Meloni – versão contemporânea de Mussolini – ficou em primeiro.

Os europeus parecem ter esquecido dos horrores das duas guerras mundiais e do holocausto, motivados sobretudo por extremistas, e voltam a pender seus ponteiros para a direita. Movidos sobretudo por temer o espaço que imigrantes – filhotes do colonialismo europeu – passem e exercer em seus países. Contra eles, toda a força bruta.

E aqui, se a Constituição de 88 tentou nos blindar de radicalismos que pudessem nos reconduzir à ditadura militar, os ponteiros ainda oscilam, mesmo após a vitória de Lula.

A extrema direita pegou o jeito de manejar as redes sociais e, assim, tem conseguido se impor no planeta. Aqui, somos vítimas de um Congresso onde o bolsonarismo ainda dá as cartas e ressuscita o pior que os homens têm dentro de si. 

Ou seja, ódio, racismo, preconceito, chauvinismo, negacionismo e reacionarismo. Tudo junto e misturado.