A epidemia descontrolada das bets

 

Era o ano de 2018, quando o ex-presidente Temer sancionou a liberação das apostas esportivas, na reta final de seu mandato. Havia dois anos prorrogáveis para a regulamentação, período em que o governo do Inelegível deixou a bola rolar solta.

A tal ponto que hoje os times de futebol são patrocinados pelas bets. Acabar com elas – algo vital depois do que se transformaram – será um baque talvez sem retorno para o futebol brasileiro. Essa, porém, é outra história.

Como lembra o colunista Bernardo Mello Franco, o Congresso aprovou no fim de 2023 uma regulamentação frouxa, comandada pelo Centrão e apoiada pelo governo Lula.

Na última terça-feira, o Banco Central contabilizou 24 milhões brasileiros apostando de janeiro a agosto online. Com casos nas classes mais baixas que lançavam a sorte com recursos do Bolsa Família, do FGTS, o diabo a quatro. As bets receberam no período entre R$ 18 milhões a R$ 21 milhões, mais de dez vezes do arrecadado pelas loterias tradicionais.

O BC avalia que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família investiram R$ 3 bilhões em apostas. Os influenciadores – essa crescente casta de mão de obra – divulgam o jogo como uma prática indolor, turbinável pelos celulares.

Conforme a Confederação Nacional de Comércio, a brincadeira já criou 1,3 milhão de inadimplentes no primeiro semestre. Verdadeira ferida na contabilidade dos mais pobres.

Felizmemte não sofro deste tipo de compulsão. Quando tinha emprego fixo fazia, no máximo, um único jogo na mega sena, ainda assim, só quando ela estava acumulada. Cheguei a simpatizar com a ideia da liberação dos cassinos, tanto pela arrecadação, quanto pelos empregos criados.

Não mais, ao entender o vínculo dos cassinos com o crime organizado, agora vinculado às bets. Praga que só faz crescer, porque nem é preciso sair de casa para apostar. Na última sexta-feira, o ministro Fernando Haddad reagiu: “Está na hora de botar ordem ao caos”. Passou da hora, na verdade.

Enquanto isso, segue firme e forte no Congresso a “Bancada das bets”, integrada por 12 parlamentares, entre eles, Elmar Nascimento (UB, foto), candidato dos sonhos de Arthur Lira para substituí-lo na presidência da Câmara em fevereiro.

E, cassinos de fama mundial, como MGM Grand e Caesars Palace, estão quase conseguindo licença para operar por aqui.

Mesmo com a Operação Integration, da Polícia Civil de Pernambuco, que já prendeu a influencer Deolane Bezerra. Já o cantor Gusttavo Lima teve sua ordem de prisão cancelada.

São todos literais casos de polícia, antes que o país vá por água abaixo com essa epidemia de um vício incontrolável.