Classe média adere à extrema direita

 

 O ‘pobre de direita’ já não é novidade. Só que o professor Valerio Arcary, do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), traz uma surpreendente informação na Revista Fórum: a classe média também bandeou para a extrema direita.

Mesmo que a vitória de Ricardo Nunes em São Paulo não possa ser atribuída à extrema direita, ela sustenta a ascensão no país da direita junto ao fisiológico Centrão. 

Para chegar a sua conclusão, Arcary baseia-se na análise de números e em contexto social. A começar pelo PIB médio anual, que só cresceu 2,4% entre 1995 e 2004.

Segundo o Ministério do Trabalho, hoje são mais de 37,3 milhões de carteiras assinadas e mais de 13 milhões de funcionários públicos. Cerca de 40 milhões estão na informalidade, sendo 10 milhões de ultra precarizados com patrões e sem carteira assinada e 25 milhões de autônomos.

São 39,2 milhões de aposentados e pensionistas,  26,28 milhões deles só com um salário mínimo. E 20,7 milhões de beneficiados pelo bolsa família. “O país é menos pobre, embora não menos injusto do que uma geração atrás”, aponta.

“Nos últimos dez anos a classe trabalhadora se dividiu. Ao menos metade dela é de renda média, sobretudo no Sul, Centro-Oeste e Sudeste. A outra são os remediados, de extrema-direita, núcleo de apoio a ela”, contabiliza. 

O crescimento médio do PIB - em média de 4% entre 2003/13 - trouxe alívio. Só que as reformas trabalhista de Temer e previdenciária de Bolsonaro aumentaram o trabalho precário, não amenizado pelo aumento da escolaridade.

“A frustração, sobretudo entre jovens de 24 a 35 anos, aumenta rancores sociais que favoreceram ao bolsonarismo”, analisa o especialista.     

Durante os governos de centro-direita do PSDB de FHC nos anos 1990, e de centro-esquerda do PT que o sucederam, nos anos 2000, a extrema miséria diminuiu, “porém o país não é menos injusto”, acrescenta.

As sequelas sociais dos últimos 35 anos só não foram piores porque o crescimento econômico desacelerou e a taxa de fecundidade caiu ainda mais, estabilizando o PIB per capita.

A redução da pobreza com aumento do consumo dos últimos  anos não permite concluir que a desigualdade social diminuiu. “Só prova que o piso da renda dos mais pobres aumentou, enquanto a apropriação da riqueza nacional pelos grandes capitalistas cresceu em proporção ao PIB”, compara.

 “Cresceram os rancores e ressentimentos entre remediados e pobres”, sendo que os mais prejudicados foram a base social que permitiu o surgimento dos sindicatos potencializados pela CUT, PT e pela liderança de Lula.”, sinaliza.

“Logo, não surpreende os que se posicionam contra Lula”.

“A extrema-direita conquistou hegemonia ideológica e conseguiu a adesão entre as camadas médias de trabalhadores. A nova 'classe média' foi para a extrema direita”, conclui.

E o resultado do segundo turno das eleições só confirma a conclusão de Arcady, junto à transformação de Lamarçal em figura pública e sua possível candidatura em 2026.