A culpa é sempre dos outros

 

Enquanto o poderoso aliado Tarcísio de Freitas se nega a aceitar o convite do PL e já negocia seu próximo partido, nas internas, com o vitorioso Gilberto Kassab, o governador bolsonarista Claudio Castro (PL) continua a meter os pés pelas mãos (e o Rio supera a cada dia os índices de violência).

Sei que os colaboradores da página de opinião do jornal O Globo recebem quantias até simbólicas para expor ali suas ideias. Creio que não deve ter sido o caso de Castro no artigo que escreveu semana passada para o nobre espaço.

Ao contrário, talvez tenha até pago. Nunca saberemos.

O fato é que usufruiu da segunda página de um dos jornais de maior circulação do país, e que tem mantido alguma coerência com princípios éticos e democráticos. Mea culpa? Longe disso. A culpa é sempre dos outros, como ensinam Donald Trump e seu pupilo, o Inelegível.

Todos vimos o recente circo de horrores, acompanhados desculpas esfarrapadas do governador. Com um texto surpreendentemente coerente para quem acabava de dizer tanta besteira (deve ter sido escrito por um marqueteiro), o governador afirma que “o Rio tem feito a sua parte”.

O que significa uma “robusta política de segurança em avanços tecnológicos, inteligência, modernização de equipamentos e melhorias das condições de trabalho de nossos policiais’. De rir.

Então, o que explica a polícia investir todas as suas fichas numa operação na Av. Brasil, de manhã – quando todos se dirigem a seus trabalhos -, deixando três mortos e a vexatória admissão do porta voz da PM de que eles foram obrigados a recuar porque não havia Inteligência para orientá-los?

Claro que Castro não teve nada a ver com isso... “Vamos enfrentar a realidade: a desarticulação dos entes federativos é que resulta nisso que vivemos em todo o Brasil.” Alguém viu recentemente cenas semelhantes à do Rio no resto do país?

Curioso que um aliado do capitão se gabe pela apreensão de fuzis: “Só esse ano, a PM apreendeu mais de 540 fuzis”, quando todos sabemos que as regras criadas pelo Inelegível – tão difíceis de ser revertidas - encheram a cidade e o país de armas, muitas delas repassadas ao crime pelos CACs.

Castro pediu uma reunião dos governadores com Lula e foi atendido. Sabemos, contudo, que o governador, com sua falta de autoridade, já deu os primeiros passos para transformar o Rio num definitivo cenário de filme de faroeste.

Quinta-feira minha faxineira que vem à minha casa a cada 15 dias teve de faltar. Um assaltante levou sua bolsa no ônibus da Ilha do Governador para Laranjeiras. A sorte é que ela conseguiu salvar o celular. É assim, viramos mestres em escapar do pior, porque no que depender das autoridades...

Até quando?