Discurso bipolar

 

  “A defesa da democracia e da liberdade não será consequente enquanto não se restaurar no nosso país a possibilidade de diálogo entre todas as forças da nação. E nisso as instituições têm papel fundamental. Por isso, apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional”.

(No caso, sua própria anistia).

“Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou”(...) "Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança". (...) "Não é uma pessoa do TSE que vai nos dizer que o processo é seguro e confiável". (...) Não podemos admitir um ministro do TSE também usando sua caneta para desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação". (...) 

"Não vamos mais admitir pessoas como Alexandre de Moraes continue a açoitar a nossa democracia e desrespeitar nossa Constituição". (...) "E dizer aqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá. Dizer aos canalhas que nunca serei preso..."

Se isso não é insuflar, não sei o que é...

Os dois discursos, pasmem, são mesmo autor: o Inelegível. O primeiro foi posterior ao atentado a bombas em Brasília na última quarta-feira 13. O segundo, em 7 de setembro de 2021, foi o arroubo que o levou a pedir socorro ao ex-presidente Michel Temer para não ser preso.

Pois é, o atentado de quarta-feira cumpriu uma imprevisível função: detonar qualquer possibilidade de anistia, que havia crescido sobretudo após a eleição de Trump nos EUA.

Daí o rabo entre as pernas de pacificador do Mi(n)to que, apesar de não primar pela inteligência, é capaz de perceber o quanto o cerco se fecha ao seu redor, às vésperas da PF concluir o inquérito dos atos golpistas.

Na mesma toada, bolsonaristas planejam boicotar “Ainda estou aqui”, o premiado e imperdível filme de Walter Salles sobre o desaparecimento do ex-deputado Rubem Paiva, morto sob tortura nos porões da ditadura.

São incapazes de perceber que vão botar azeitona na empada de Waltinho, cuja obra é de uma inédita contemporaneidade. Não há quem não saia do cinema revoltado em saber que os cinco autores do hediondo crime jamais foram punidos.

Anistia, ditadura e tortura NUNCA MAIS!