Esperando Gonet e sua turma

 

Já deu para perceber que a pressa não é uma característica do PGR Paulo Gonet. Tanto que, apesar da lei estabelecer um prazo de 15 dias para que ele se manifeste sobre o inquérito da PF sobre os atos golpistas, Gonet não deve levar menos de três meses para liquidar a questão.

Pois foi seu antecessor, Augusto Aras, de triste memória, quem criou o Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos (GACC) que, desde o início, se debruça exclusivamente sobre o quebra-quebra do 8 de janeiro.

E o que deve prorrogar o trabalho destes nove procuradores – coordenados por Joaquim Cabral da Costa Neto, da PRM de Garanhuns (PE) e por uma maioria feminina, entre elas, Adriana Scordamaglia Fernandes, da 3ª Região – é a conjugação do inquérito aos das vacinas e joias.

Até dezembro de 2023 a equipe foi coordenada pelo subprocurador-geral Carlos Frederico Santos, responsável por boa parte das denúncias contra os vândalos do 8 de Janeiro.

Na época, Santos chegou a chamar de narrativa a delação de Mauro Cid e avisou:  “Eu não trabalho como o pessoal da Lava Jato. Eu trabalho com provas concretas para que as pessoas sejam denunciadas com provas irrefutáveis”.

Já Costa Neto, que nunca deu entrevistas, tem perfil mais discreto. Desde que assumiu o cargo, contudo, o MPF já denunciou e condenou 284 envolvidos com o quebra-quebra. Ao mesmo tempo, a equipe tem proposto penas alternativas aos 476 presos em flagrante no 8 de janeiro.

O prazo previsto para a conclusão da análise do inquérito da PF - sobretudo a dos atos golpistas, com maior potencial para punições -, é um banho de água fria, com a recente performance suicida do terrorista Francisco Wanderley, na Praça dos Três Poderes, e a revelação do plano para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.

Como lembrou o historiador Daniel Aarão Reis, a junção de dois inquéritos ao dos golpistas e a indicação de 37 indiciados pela tentativa de golpe pode levar a algo para não ser resolvido nunca. "Uma imensa pizza", como ele chamou.

Apesar da prisão do general da reserva Mário Fernandes, ele ainda é peixe miúdo perto dos generais Braga Netto e Augusto Heleno, sobre quem pairam provas abundantes das tentativas de ataques à nossa democracia. 

Principalmente sobre o Inelegível, que segue livre, leve e solto, como se não houvesse amanhã...