Julgamento: marco ou teatro?

 

Inimaginável a dor para uma mãe, uma filha e uma viúva, ouvirem o depoimento dos bandidos que mataram seu ente querido, com requinte de descrições...

Dois dias de julgamento de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz - os réus confessos pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes -, podem até ter trazido algum alívio as penas de 78 anos e 9 meses ao primeiro e de 59 anos e oito meses ao segundo. Passados 2.423 dias da execução.

Como fica o prévio acordo de delação premiada feito com a dupla, de que a prisão não poderia passar de 18 anos para Lessa e de 12 anos para Queiroz, cinco deles já cumpridos?

Foi um marco ou tudo não passou de teatro? O que vai valer?

Não há estômago de mãe capaz de ouvir o criminoso descrevendo friamente que mirou na cabeça de sua filha, e no dia seguinte ouvi-lo se desculpando e se arrependendo.

Cínico. Oportunista.

Pior que isso só a viúva de Anderson, na época com um filho de 1 ano e 7 meses, ouvir que o bandido usou a arma errada, e que se fosse uma pistola seu marido não teria morrido.

Aparentemente os assassinos – que não poderão recorrer em liberdade - foram julgados e condenados. Alguém acredita que os ex-PMs ficarão tanto tempo atrás das grades?

Resta saber como será a crucial etapa seguinte. Enquanto os autores já têm sua pena definida, os mandantes continuam negando a responsabilidade pelo crime. Chiquinho Brazão sustenta que sequer conhece Ronnie Lessa, que disse ter se reunido com os irmãos para definir como seria o atentado.

O traíra Rivaldo Barbosa, que enquanto confortava os familiares usufruía do assassinato, também apela para tirar seu corpo fora. Resta saber se a Justiça tardará e virá para ele.

O motivo do crime, fundiário, surpreendeu a todos, sobretudo familiares. Não restam dúvidas que a motivação foi política. O fato é que o julgamento só aconteceu quando a PF entrou no caso. Se dependesse do governo estadual nada aconteceria.

Segundo a Globonews, um delegado também associou o crime ao extremismo de direita – o que pode ser um fio de ligação com alguém intimamente ligado a Ronnie Lessa, que mantém com essa pessoa uma dívida de gratidão pela perna mecânica doada e que jamais o delataria...

Veremos as próximas etapas.