Retrocesso pode ter salvo a democracia

 

Na semana passada, me encontrei com um tio idoso que desdenhou dos planos de assassinar Lula, seu vice e o ministro Alexandre de Moraes. “Assassinato? Você acredita nisso?”, como de fosse um absurdo desprovido de provas. É como também deve pensar o gado bolsonarista...

Mais de 50 gravações de troca de mensagens em aplicativos, contudo, detalham a tal operação Punhal Verde e Amarelo, para assassinar o trio e manter o Inelegível no poder. No melhor estilo Tabajara, que teve no general Mário Fernandes - ex-secretário executivo da Secretaria Geral da Presidência - (foto) um de seus principais artífices.

“Qualquer solução, caveira, tu sabes que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”, avisa Fernandes a um kid preto. “Tá na cara que houve fraude. Não dá mais para a gente aguardar essa p...”, prossegue o militar.

“Talvez seja isso que o alto comando quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja para inflamar a massa. Para que ela se mantenha nas ruas”, completa. “Vamos nessa, tô pronto. Força”, acrescenta um interlocutor.

Outro menciona que o golpe teria de ser executado pela "rataria", os filhotes dos Burniers e Ustras que barbarizaram nos porões da ditadura.

Já em 9 de novembro de 2022, Fernandes usa a impressora do gabinete da secretaria da presidência no Palácio do Planalto. Surge então o plano Punhal Verde Amarelo (talvez inspirado na Noite dos Longos Punhais nazista), com os assassinatos para o golpe de estado. No mesmo dia ele levou uma cópia do texto ao capitão, no Palácio Alvorada.

O plano previa estratégias militares, coletes a prova de balas e as armas necessárias para a ação contra autoridades, como uma metralhadora que dispara 800 tiros por minuto, um lança granadas e um lança rojão que para até tanque de guerra.

O principal alvo era Alexandre de Moraes, que poderia ter sido sequestrado, sofrer prisão arbitrária e até assassinato. O ministro chegou a ser monitorado. Outro envolvido no plano foi o tenente coronel Rafael Martins de Oliveira, kid preto como Fernandes, ambos detidos na semana passada. 

Mensagens trocadas em 15 de dezembro demonstram que os investigados estavam em campo para ações contra o então presidente do TSE. Martins de Oliveira avisa: “Estou na posição”. Só que o homem no comando ordena: “Abortar”.

Desistência que permanece sem explicação para a PF. Segundo o Fantástico, entretanto, naquele mesmo dia o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, foi ao Palácio se reunir com o capitão. Talvez tivesse surgido desse encontro a contra ordem.

Freire Gomes sempre deixou claro que não compactuaria com qualquer movimento para reverter o processo eleitoral. Depois disso, houve ainda a tentativa frustrada de explodir uma bomba no Aeroporto de Brasília e o 8 de janeiro.

Eles tentaram, no melhor estilo dos golpes dos séculos passados. Só que hoje a democracia é minada por dentro, como fazem a Hungria e a Venezuela. Quem sabe os métodos ultrapassados que escolheram os tenham levado ao fracasso? Sorte nossa...Escapamos de um banho de sangue...