Comunicação permeou os passos do golpe

 

A comunicação bolsonarista não só foi parte do golpe, como ponto comum entre todas as ações golpistas, como avalia o filósofo Wilson Gomes, no Canal Meio. Para o professor da Universidade Federal da Bahia, ela moldou a opinião pública e pressionou as instituições. Simultaneamente.

Da construção da narrativa de fraude nas eleições à disseminação de desinformação e ataques aos opositores, como Alexandre de Moraes, a comunicação dos patridiotas – pela primeira vez analisada por investigação policial, com base numa coleção de provas - conduziu a estratégia golpista.

A ideia era justificar as ações apoiadas na narrativa de fraude eleitoral (sem qualquer base na realidade), para desqualificar o processo eleitoral, incitar a ruptura institucional e sustentar que as eleições foram fraudadas. E criar uma atmosfera de incerteza e angústia coletivas.

Para levar à intervenção militar que restauraria ordem.

Entre as quase 900 páginas do inquérito sobre a tentativa de golpe, ficou provado pela PF que o ex-presidente, seus ministros, assessores e servidores públicos usaram seus cargos para disseminar informações falsas, atrair apoiadores e pressionar as instituições.

A comunicação também incitou a violência contra opositores e instituições. Carla Zambelli foi uma que convocou manifestações em defesa da “liberdade de expressão”, quando a real intenção era pressionar as instituições e promover a ruptura democrática.

(Espera-se que estas ações levem à sua cassação).

A comunicação forjava a imagem de um movimento de massa, espontâneo, promovia convocações às manifestações, inclusive aos atos violentos, e disseminava um clima de guerra que culminou no 8 de janeiro - auge da radicalização.

Era também usada para pressionar o Alto Comando a mobilizar apoiadores, assim como atacou os comandantes contra o golpe, os “melancias”. O general Freire Gomes, por exemplo, foi alvo de fake news, difamação e ataques pessoais.

Além de arma para pressionar a adesão dos militares, as mensagens tranquilizavam financiadores e intimidavam os opositores. E continuaram a ser importantes após o golpe ser desmascarado, no controle danos, no ataque à credibilidade das investigações e na manutenção da base mobilizada.

Já a minuta de um Gabinete Institucional de Gestão da Crise, encontrada com o general kid preto, Mario Fernandes, mostra a intenção de centralizar a comunicação e coordenar as ações de inteligência e contrainteligência.

“É é possível deduzir que a comunicação pós-golpe seria central para legitimar o novo regime e obter apoio da população e da comunidade internacional”, defende o filósofo. A comunicação, portanto, turbinada pelas redes sociais tão bem operadas pela extrema-direita, permeou todos os movimentos dessa turba antes e depois e quase nos conduziu de volta a uma ditadura militar.

Mais uma razão para festejar nesse fim de 2024!

PS: Prezados leitores, pauso aqui a minha própria comunicação...Dia 2 de janeiro estou de volta. Boas festas!