Desdém com aliados pode ser fatal

 

Eles parecem que não aprendem. Quando o ex-faz tudo Mauro Cid foi preso, amargou longos dias na cadeia – sem que o ex-chefe desse um passo sequer para apoiá-lo – e o que aconteceu? Cid fez a delação premiada que, junto a todo o material recolhido, incriminou o capitão até a medula.

O Inelegível mantém o hábito de lançar os seus aos leões, como volta a fazer com o general Mario Fernandes - seu número dois da secretaria-geral da presidência, peça chave no planejamento do golpe e único preso entre os indiciados.

Segundo o editor de política do Globo, Thiago Prado, Fernandes mudou do advogado Raul Livino para Marcus Vinícius Figueiredo que, por enquanto, não cogita uma delação premiada. Só que vai ser difícil ele aliviar seu cliente diante da estratégia de Amador Bueno, advogado do capitão.

Isso porque Bueno sustentou na Globonews que o grande beneficiado do tal plano Punhal Verde e Amarelo seria Fernandes, cujo projeto era criar uma junta militar após o golpe, da qual faria parte. Já seu cliente, sequer foi citado.

E eis que o velho conhecido de guerra, Frederick Wassef, volta à cena. Nas internas, ele argumenta que ao apontar tão claramente para oficiais, Bueno estaria estimulando uma possível delação premiada de Fernandes, mais enrolado do que linha em carretel.

Recheada de provas, a PF sabe que foi dele a ideia de matar Lula, Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, plano impresso no Planalto. Enquanto isso, Fernandes padece, sozinho, isolado numa cela, e seu ex-chefe cala sobre as acusações contra ele para se safar.

Outro que levou sobra do ex-aliado foi o general Braga Netto, acusado na mesma entrevista à Globonews de traição por Amador Bueno. “É uma tese absurda e fantasiosa”, reagiu o militar. Mais um que, preso hoje de manhã pela PF por arquitetar a tentativa de golpe, também pode optar por uma delação premiada.

Existe, porém, um ponto de concordância entre Wassef e Bueno. Ambos acham que não há problema jurídico em decretar o estado de sítio por meio do (fatídico) artigo 142 da Constituição, que urge ser extinto ou ao menos reescrito.

Até porque o capitão já admitiu ter discutido o assunto com os comandantes das forças. “Não foi nenhuma discussão acalorada. Golpe usando a Constituição? O que está na Constituição você pode usar”, argumentou ele, em novembro.

Resta saber quem vai levar a melhor: qual dos advogados? O capitão ou os generais?

De minha parte, espero que todos se danem.