Heleno criticava o capitão

 

De uma certa forma, o que poderia virar dor de cabeça para Augusto Heleno - o general de olhar oblíquo apontado pela PF como principal mentor da tentativa de golpe -, pode acabar conspirando a seu favor, com a descoberta de anotações feitas por ele recheadas de críticas ao governo do Inelegível.

Reunidas em um caderno pessoal, Heleno mostra preocupação com os rumos do governo, sobretudo em relação à pandemia de CoviD-19 e ao desempenho político com o Congresso.

"Desdenha do vírus", "não tem gestão" e "nada está bom", diz, nitidamente insatisfeito com as atitudes do chefe e da forma como ele conduzia seu governo. E afirmou, ainda, em letras maiúsculas: “PRES TEM QUE TOMAR VACINA”.

Teimosia, como se sabe, que se tornou marca registrada do capitão – verdadeiro exemplo de sua ignorância em relação ao que de fato controlou a pandemia. Até hoje um mistério...

“Destravou a pauta”, também registrou o general, após a eleição do novo Congresso e o afastamento de Rodrigo Maia, sobre o apoio à agenda do governo pelos novos líderes eleitos.

Heleno também abordou a queda de popularidade do ex-presidente: “Há um rombo na popularidade do PRES”, escreveu, comentando o desgaste político do governo sofrido, em várias frentes.

Quando veio à tona o inquérito da PF sobre os atos golpistas, não chegou a surpreender que Heleno fosse apontado como  “líder estratégico” do movimento, para quem já foi ajudante de ordens do truculento general linha dura Silvio Frota, afastado pelo então presidente Ernesto Geisel por suas ações extremistas, como a bomba que matou D. Lyda Monteiro, secretária da OAB, em 27 de agosto de 1980.

O inquérito aponta Heleno como "uma das figuras mais influentes do esquema", envolvido em desacreditar o sistema eleitoral, planejar a ruptura institucional e preparar o pós-golpe, liderado por ele e por outros milicos de alta patente.

O general chegou a discutir a infiltração de agentes do SNI em campanhas adversárias, além de pressionar a AGU a se opor a ordens judiciais contrárias ao governo. Ele seria o chefe do "Gabinete Institucional de Gestão de Crise", criado após o assassinato do ministro Alexandre de Moraes.

E, segundo o ICL, o ex-faz tudo Mauro Cid disse à PF que Heleno entregou dinheiro em embalagem de vinho para financiar o golpe, repassado aos kids pretos por Braga Netto.