Quando a realidade supera a imaginação

Retomo aqui o saboroso exercício de imaginação do talentoso escritor e jornalista Antonio Prata, sobre uma trajetória que tinha tudo para dar errado. Dá certo, porém. Até agora...

Um anônimo capitão do Exército planeja explodir unidades da própria corporação e de abastecimento do Guandu. Passa uns dias na cadeia e é reformado. Depois resolve concorrer a vereador. É eleito. Elogia a ditadura, os militares, atua para melhorar as condições da caserna e se elege deputado federal.

Ali, passa 27 anos de mandato só com dois projetos aprovados, enquanto exerce o papel de sindicato particular dos milicos. Elogia o torturador Brilhante Ustra no processo de impeachment de Dilma Roussef, desdenha de desaparecidos políticos e simula uma cusparada no busto de Rubens Paiva, em Brasília, na frente de sua família.

É um árduo defensor de armar a população. Requisitos que o levam ao colo da extrema direita e o inimaginável acontece: se elege presidente. E, após quatro anos do mais medíocre dos governos - com permanente pregação pró golpe -, foge para os EUA a pretexto de não passar a faixa presidencial para Lula.

Agora, qual seria o comportamento mais lógico para uma criatura ignóbil como essa? Fugir para não ser preso. É claro. E todos aqueles que estão ciosos em proporcionar a ele um processo estritamente ‘dentro das quatro linhas’ para sua prisão, correm o risco de virar cúmplices dessa fuga.

Nem é preciso ser criativo para imaginar...

Enquanto isso, os bolsonaristas fazem a sua parte. Após se associarem ao negacionismo do líder, contribuem ativamente pelos 700 mil mortos na pandemia da Covid. E esse ano, acendem tochas para ajudar o país a pegar fogo no auge da seca, multiplicando os incêndios em progressão geométrica.

Sempre ativo - embora muitos não tenham tido estômago para prosseguir nessa assombrosa trajetória e tenham pulado fora -, o CCJ da Câmara tira da gaveta o escabroso PEC do Estupro – isso é impossível  de imaginar: uma menina é estuprada e presa por fazer aborto, enquanto nada acontece ao estuprador.

Tudo para distrair a atenção daqueles que acompanham os resultados da profunda investigação da PF que prova por A+B a liderança do Inelegível nos atos golpistas. 

Eles mantêm a luta por instrumentos legais para garantir anistia aos golpistas, são atropelados, porém, pelo terrorista que explodiu a bomba em sua cabeça e pela revelação do plano de assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.

E tentam boicotar  "Ainda estou aqui", tarefa inglória, porque o filme continua batendo recordes de bilheteria

Essa semana tem mais: o CCJ do Senado desencava a PEC da Privatização das Praias para votar, com defesa ferrenha do clã e do Inelegível (qual será o interesse deles?) Isso sem falar na pressão no câmbio e nos juros, para melar a economia.

Será que a realidade continuará a superar a imaginação?