Tentativa de superar o avô medíocre

 

Todos os que viveram os 21 anos de ditadura militar sabem que o pior período foi o do presidente Garrastazu Médici (1969-1974) – quando a linha dura deu o golpe sobre o golpe com o AI-5 instaurado em 1968.

Não por acaso, foi o mais populista dos generais, apoiado no futebol e no sucesso da Copa 70 para fugir da repercussão das torturas infringidas pela rataria nos porões, inclusive a que matou Rubens Paiva, cuja história volta à tona com o filme "Ainda estou aqui", sucesso de bilheteria de Walter Salles.

Não se sabe, porém, de herdeiros desta linhagem do mal. Entretanto, João Figueiredo, que nunca disfarçou sua preferência pelos equinos aos seres humanos e parecia desempenhar seu poder com enfado, deixou um neto que tenta superar a imagem medíocre do avô.

Por caminhos tortuosos.

Autointitulado jornalista depois de virar comentarista da Joven Pan, Paulo Figueiredo (foto) caprichou tanto em sua trajetória que integrou-se justamente aos golpistas que planejavam envenenar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.

Esta é uma das revelações do inquérito da PF, segundo o qual Paulo vazava documentos pró-intervenção militar, criava fake news contra as urnas eletrônicas, pressionava generais a aderir ao golpe e incitava nas redes o ódio aos militares que resistiam a participar do plano.

O economista e influenciador digital também estava encarregado de divulgar a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais da Ativa do Exército brasileiro”, para fazer crer que as Forças Armadas estavam alinhadas ao golpismo. Ele foi apontado ainda como responsável à pressão exercida sobre os comandantes do Exército e Aeronáutica.

Como se sabe, dupla a quem devemos o fracasso do golpe.

E, assim como o Inelegível, que fugiu para os EUA com medo de ser preso – mal sabia ele que a PF levaria dois anos para desvendar seus mal feitos –, Paulo também mora por lá.

E deve estar bem à vontade com a reeleição de Trump. Ainda não se sabe o que vai acontecer com o ‘jornalista’ que, por dever de ofício, deveria se opor ao arbítrio e ao autoritarismo pelo Código de Ética da profissão. E nem à Jovem Pan.

Uma coisa é certa: ambos deveriam ser duramente punidos, assim como todos os que colaboraram ativamente com a tentativa de dar fim à nossa combalida democracia.