As intenções do capitão na pandemia

 

Embora os 700 mil mortos pela Covid-19 não integrem o inquérito dos Atos Golpistas da PF – que pode levar o Inelegível à cadeia –, o comportamento do ex-presidente diante da pandemia se insere nos estudos sobre uma nova ciência, a Agnotologia.

E quem se debruça sobre este tão recente caso é a doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, Nayla Lopes. Parte de sua tese busca ligar o negacionismo à pandemia de COVID-19, com deliberada promoção da ignorância pelo governo anterior.

Ela lembra que, não por acaso, vimos a ascensão de diversos movimentos anticiência, do inofensivo terraplanismo ao grave antivacina, com o avanço de ideologias radicais de extrema direita e do fundamentalismo religioso.

E o que a agnotologia tem a ver com isso? Ela estuda a produção e promoção da ignorância, de como pessoas a sociedades inteiras são mantidas ignorantes ou alheias a informações e fatos, e dos interesses a quem isso se destina.

Um dos maiores objetivos dessa nova ciência é provar a intenção de propagar a ignorância, o que foi fartamente observado no governo do Inelegível em relação à pandemia, com exemplos facilmente mensuráveis.

Como "ao dizer repetidamente que foi 'o único chefe de Estado' contra medidas não farmacológicas e usar isso como uma espécie de 'medalha de honra', o ex-presidente só prova  sua intenção", cita ela.

Outro exemplo foi a maior mortalidade por Covid-19 entre os apoiadores do Inelegível, assíduo em promover aglomerações e se opor ao uso de máscaras e às vacinas.

“São mais de mil documentos de alerta ignorados pelo governo", diz Lopes, quando, a partir da segunda onda já seria possível distinguir o que funcionava ou não na prevenção da doença. “Mesmo sem vacina, já dava para amenizar a situação com medidas não farmacológicas. As informações estavam disponíveis”, acrescenta.

"Cloroquina, tratamento precoce, imunidade de rebanho, as pessoas não tiveram estas ideias sozinhas", aponta. "Juntando tudo, temos um cenário muito provável de intencionalidade agnotológica da parte do capitão, de seu governo e apoiadores com relação à pandemia".

(Fonte, Cesar Baima, Revista Questão de Ciência)

Até agora, porém, essa trágica postura o levou, no máximo, à subtração de muitos votos dos que perderam seus entes queridos. E, quem sabe, ainda se some às causas que o levarão à prisão?