Defesa do indefensável

 

Quem me chamou atenção para a falta de elos confiáveis entre Bolsonaro e o 8 de janeiro foi o jornalista Pedro Dória. Como já foi dito aqui, a denúncia do PGR limita-se à menção “tomada de poder pelo povo” para sitiar Brasília.

Às conclusões mais concretas da mídia – como a certeza de que os protestos foram bem planejados e financiados –, soma-se a reportagem do Fantástico do último domingo, com o flagra em áudios de militares que detalham a trama golpista.

“Eu acho que o pessoal (acampado no QG de Brasília) poderá fazer essa descida (até a Praça dos Três Poderes). Porque a massa humana chegando lá, não tem PM que segure. Vai atropelar a grade e vai invadir. Depois não tira mais”.

A fala é do tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, um dos 34 denunciados pela PGR – embora esta gravação não fosse apontada como causa  para a suspeita sobre o militar.

“Parece que existe um mandado do TSE ou do Supremo em relação aos caminhões que estão lá (no QG de Brasília). Já andou havendo prisão ali pela PF. Se o presidente pudesse dar um input para o Ministério da Justiça para segurar a PF. Estou tentando agir diretamente junto às Forças, mas se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete atuar...Pô, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro, como os caminhoneiros que estão em frente ao QG”.

Dessa vez o áudio é do general Mário Fernandes (foto), um dos primeiros detidos pela PF. Ele também fez um pedido parecido ao general Braga Netto: “Se o senhor puder intervir junto ao presidente, falar com o ministro Anderson (da Justiça). Segurar a PF para cumprimento dessa ordem. Ou com comandante do Exército, para gente segurar, proteger esses caras ali”, acrescenta.

O coronel George Hobert Lisboa, então assessor da Secretaria Geral da Presidência, não poderia ser mais explícito: “Agora está ficando claro que o Alto Comando do Exército tá se fechando em copas, talvez com uma maioria contra a decisão do presidente. Mas pensando em primeiro lugar no próprio Exército, quando devia pensar em primeiro lugar no Brasil. Eu sei o quanto o senhor está comprometido com  essas ações, o risco que todos nós corremos participando dessa frente.”  

Ou seja, apesar de toda a dedicação da PF para compor as 884 páginas do inquérito golpista – chamado pelo diretor-geral da PF, Andrei Augusto Passos Rodrigues, de “obra prima” – e dos cuidados da PGR, qualquer ‘ponta’ solta que possa favorecer Bolsonaro será explorada por seus advogados, pagos a preço de ouro para defender o indefensável.