Efeitos colaterais da Intervenção

 
Embora o general Braga Netto não esteja na lista, oito militares – dois deles diretamente ligados ao general – foram indiciados pela PF por fraude em um contrato de R$ 36 milhões, ligado à Intervenção na Segurança do Rio, de 2018.

Mantido sob sigilo, o relatório da PF - encaminhado à Justiça Federal em 7 de março – aponta os crimes de prática de  fraude a licitação, organização criminosa, advocacia administrativa e evasão de divisas.

Braga Netto – preso preventivamente desde dezembro, por tentativa de obstrução nas investigações sobre os atos golpistas – começou a ficar conhecido no país após a Intervenção, que não trouxe resultados concretos, ao contrário.

Foi durante a Intervenção de 2018, por sinal, que ocorreu o bárbaro assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, no dia 14 de março. Na época, eu estava no Jornal do Brasil e havia pedido para Marielle escrever um texto sobre a operação militar. Morta naquela noite, seu texto foi o último escrito - e publicado na capa do jornal - ainda em vida.

O foco da tal investigação da PF foi a contratação, sem licitação, da empresa norte-americana CTU Security, assinada em 31 de dezembro de 2018, no último dia da intervenção.

Entre os indiciados está o coronel da reserva Robson Queiroz Mota, então assessor do chefe de gabinete de Braga Netto. Ele foi contratado pela CTU em 2019 para defender os interesses da empresa junto aos militares, e recebia pagamentos enquanto ainda exercia o cargo. Outro envolvido foi o general Paulo Roberto Correia Assis, que tentava facilitar a contratação da CTU junto a Braga Netto. Como ele faleceu em maio de 2024, não foi incluído no indiciamento.

Para a PF, a suspensão do contrato não anula a tentativa de consumação da fraude – algo parecido com a tentativa de golpe, que precisa ser punida apesar de não ter se consumado. A descoberta, ainda a tempo, só conseguiu evitar aquele prejuízo aos cofres públicos.

O fato é que, apesar de Braga Netto não ter sido citado entre os indiciados, o episódio – ocorrido nas suas barbas – demonstra o quanto é falsa a imagem de integridade dos militares. Eles não hesitam em dar o bote quando têm a faca e o queijo na mão...