Extrema direita quer dominar o Judiciário

 

Para o historiador João Cezar de Castro Rocha, o mais importante do ato do último domingo (Foto Alexandre Cassiano) foi o ex-presidente ter pedido aos presentes: “Me deem 50% da Câmara e 50% do Senado que eu mudo o destino do nosso Brasil!”. 

E conclama todos a votar maciçamente no PL, para dominar o Judiciário, o TSE, e provocar uma intervenção no STF.

Esta é a receita transnacional da extrema-direita para corroer a democracia por dentro. E o Inelegível sabe disso. (Trump acaba de levar uma rasteira da Suprema Corte, para quem o desmonte da Usaid por Elon Musk é inconstitucional)...

O modelo foi aprendido, sobretudo, com Victor Órban , eleito em 1998, aos 35 anos, primeiro-ministro da Hungria, o mais jovem da União Europeia. Só que ele perdeu em 2002 e 2006. Quando voltou ao poder, em 2010, aprendeu a lição: era preciso controlar o Supremo.

Aposentou compulsoriamente os juízes da Suprema Corte, então, escolheu outros ministros e alterou a ordem jurídica da Hungria para que suas decisões não fossem contestadas. Alterou ainda a forma de contagem de votos, para assegurar a permanente vitória do Fides, seu partido

Eis o retrato falado e escrito do projeto do Inelegível.

Sem esquecer do que ocorreu na ditadura militar (1964-1985), fonte de inspiração para o ex-presidente. Em 1965, o regime ampliou o número de juízes do STF de 11 para 16, para  conseguir sempre maioria para suas posições.

Após o AI-5, três ministros foram aposentados compulsoriamente. Em protesto, outros dois pediram aposentadoria. Com isso, o regime ganhou mais cinco ministros para ter sempre maioria folgada, modelo que só funciona quando o judiciário é cerceado.

Por isso, Alexandre de Moraes foi o grande alvo na manifestação. Flávio, o primogênito da famiglia, já tinha feito uma ameaça direta a Moraes no próprio Senado, uma tentativa de dominar a Casa para atingir diretamente o STF.

A análise do historiador corresponde aos resultados da pesquisa realizada por pesquisadores da USP – os mesmos que aferiram a frequência de 18,3 mil na manifestação – durante o ato: 59% veem o STF que vai julgar o capitão como o principal inimigo público. 

E, como Michelle não compareceu – supostamente por se recuperar de uma cirurgia estética -, 42% citaram Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, como melhor nome para concorrer em 2026 no lugar de Bolsonaro.

Como se sabe, se o capitão for de fato preso, a primeira iniciativa de Tarcísio, se eleito presidente, será soltar o aliado. Se correr o bicho pega, se ficar, ele come...

(Bolsonaristas 'xingaram' o estudante de Direito, João Pedro Fagundes, 18 anos, responsável pelo 'Sem Anistia' estampado no prédio da Av. Atlântica, de "comunista". Que tal?)