Passos de Tarcísio rumo à presidência

 Após Carlos Bolsonaro taxar os governadores de direita de “ratos”, por descumprirem o ‘pacto de boa vizinhança’ para preservar o sagrado nome do pai, Tarcísio de Freitas já organiza seu entorno sobre sua própria candidatura à presidência. Ele quer deixar a mesa arrumada até anunciar a decisão, cujo prazo limite é abril de 2026.

Na Festa do Peão, em Barretos ele puxou o saco: “Bolsonaro está passando uma grande injustiça”, estrategicamente com o boneco do ex-presidente nas mãos (foto). “O tempo vai trazer justiça. E tenho certeza que a justiça chegará”, completou.

Para bom entendedor meia palavra basta. Claro que Tarcísio referia-se a si próprio como o paladino da justiça tardia, ao garantir o indulto a Bolsonaro se chegar à presidência. Dos cinco governadores que já se colocaram na disputa, ele é o único a não admitir, ainda, a sua real intenção.

“Essa pessoa fez tudo por mim e me abriu as portas” derreteu-se, em recado direto ao clã, tudo por sua indicação para assumir o espólio do ex-presidente, que representa 40% do eleitorado. Não é pouca coisa e não dá para desperdiçar.

Tarcísio sabe que já conquistou o Centrão e a Faria Lima, setores que se debandaram para o seu lado por saberem que Bolsonaro é carta fora do baralho. Como se não bastasse o novo indiciamento por obstrução de justiça, a PF localizou os R$ 44 milhões destinados ao ex-presidente desde 2023.

A candidatura de Tarcísio é costurada com muita calma e planejamento, até porque ele sabe do seu favoritismo para assumir o bastão da direita e extrema direita. Junto aos militares, sua trajetória começou ao participar da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti).

Que, por sinal, deixou um saldo de vítimas de cólera, abusos sexuais, miséria e instabilidade política – apesar dos milicos referirem-se a ela como um grande sucesso (só se for para projetá-los, a exemplo do general Augusto Heleno, agora também à beira do cadafalso). Tarcísio, como se sabe, comandou o ministério da Infraestrutura, excelente janela para projetar um 'faz tudo’ (que o levou ao governo de SP).

No  início de 2023 ele mostrou de que lado está, ao apoiar a matança de suas forças policiais no litoral paulista, acusada até por Donald Trump de atacar os Direitos Humanos (faltou a Dudu avisar que naquele caso tudo era permitido). Outro passo decisivo foi a privatização da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), apesar de ser uma empresa lucrativa.

Até Lula sabe quem deve ser seu concorrente em 2026. E permanece em vantagem sobre o governador paulista (47% x 35%), conforme a última pesquisa da Quaest. É a menor distância entre os eventuais concorrentes.

E já sabemos que se caso Tarcísio for eleito presidente – mesmo após a tonelada de provas contra Bolsonaro que justificarão a sua provável prisão -, rapidamente ele deve voltar à liberdade. Resta saber se o STF vai engolir essa...